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Kirchner, a praça e o petróleo
22 May 2006 |

Kirchner, a praça e o petróleo

Por: Manolo Romano

Fonte: La Verdad Obrera N° 187

A decisão de Evo Morales ante as petroleiras na Bolívia, ainda restrita ã nacionalização de 82% da renda dos hidrocarbonetos com o intuito de formar uma empresa mista entre o Estado e as empresas estrangeiras, de todas as maneiras deixou em evidência a submissão de Kirchner ã Repsol. E voltou a colocar no centro da discussão nacional os problemas graves da Argentina, como semicolônia, em torno da propriedade dos recursos naturais não renováveis de gás e petróleo. São públicas as cifras do saqueio: de cada 5 barris extraídos pela Repsol, não chega a repor um, pois a empresa que mais lucra na Argentina, não se investe em novas explorações. Esta prática colonialista significa o esgotamento do petróleo em não mais que 10 anos.

Ante esta “crise nacional” latente fala-se de anúncios para o ato do 25 de maio com a intenção de comprar uma percentagem menor das ações de baixo custo da Repsol e apresentá-los como uma grande “causa nacional”. As ações da petroleira estão baixas, já que os gerentes da Repsol se mostraram dispostos a se desfazer de uma percentagem, com o intuito de se capitalizar. Se fala em adquirir até 10 % das ações por parte do Estado com os fundos da caixa de De Vido- o arrecadador e/ou com capitais de “empresários nacionais” tão irrepreensíveis como Bulgheroni, que seriam subsidiados pelo Estado para fazer o que a Repsol não faz: investir na exploração de novos poços. Assim nem tudo estava ás claras, segundo reconhecem os meios de comunicação oficiais, visando sua execução imediata, já que “teria que seguir aumentando as reservas”. A menos que o Barrionuevo viesse a flamar as bandeiras argentinas frente ã coluna do sindicato gastronômico na Plaza de Maio.

Após a decisão boliviana, o que já era uma hipocrisia passou a ser completamente ridículo, ã revelia de seu caráter reacionário. Kirchner esteve presente na Cúpula com os presidentes Chávez, Evo Morales e Lula, para atuar no bloco com o líder do PT como advogado das petroleiras. Já não se tratava de controlar o preço dos alimentos em acordo com os supermercados; nem sequer da importante disputa com os pecuaristas. Kirchner e De Vido buscam moderar o impacto dos decretos da semi-nacionalização boliviana, uma vez que atuam sobre os preços do gás que podem multiplicar a inflação de conjunto. E ainda mais: Kirchner deve cumprir na região o papel conservador, que implica em resguardar a propriedade e os super-lucros das empresas imperialistas, porque a obsessão kirchnerista consiste garantir a “segurança jurídica” das privatizações dos anos 90 para atrair investimentos do capital estrangeiro. Justamente o que pede o Estado Espanhol quando declara, através do Ministro da Economia, Solbes, que as decisões soberanas da Bolívia são “inaceitáveis”: “Se é preciso manter processos de inversão nos países considerados fundamentais para o desenvolvimento, ou há segurança jurídica ou é muito difícil que as coisas terminem bem”. Sem estes investimentos o crescimento econômico atual não pode se apoiar na “Esperança” prometida na Praça de Maio no dia 25. Isto esclarece o que dissemos enquanto socialistas do PTS, que este “novo modelo” é um neoliberalismo de 3 a 1: tem a mesma dependência do capital estrangeiro que Menem e Cavallo, mas com um dólar a três pesos.

Como “causa nacional”, na Praça do SI aparentemente prima a disputa diplomática com Tabaré Vázquez (que se não fosse pelo apoio dos sindicatos uruguaios se pareceria bastante com De la Rúa) pela instalação contagiante das fábricas de celulose Botnia e Ence. Ainda que esta tão pouco seja uma luta contra as empresas imperialistas. Os ambientalistas de Gualeguaychú criticam o presidente por não dizer “Não ás fábricas de celulose” no ato junto aos governadores que de ambientalistas não tem nada, inclusive o caso dos pingüins empetrolados de Santa Cruz. E por cima, a “heroína nacional” da mídia não foi Cristina de Kirchner, mas Evangelina Carrozo.

O PJ, que surgiu com as bandeiras do nacionalismo burguês de Perón, culminou seu ciclo com Menem como agente direto do capital estrangeiro. Kirchner procura recompor sua imagem, valendo-se do velho aparato. O mesmo fora parte dos privatizadores do YPF dos ’90 em sua província e se esforça para manter a continuidade dessa entrega nacional. Um dos lemas do governo para convocar a Praça do 25 é “Nós não ajustamos”. É pertinente: o mecanismo para manter o superávit fiscal que exige o FMI e os organismos financeiros internacionais já não se equipara aos cortes permanentes no gasto público, aos pressupostos de saúde e educação e o rebaixamento de salários que Menem e De la Rúa necessitavam para acumular divisas e manter a “convertibilidade”. Porém o PJ que se está para se reunir na Praça poderia afirmar, com Duhalde “Nós desvalorizamos, assim reduzimos o custo salarial e favorecemos os exportadores, facilitamos os super-lucros empresarias e agora colocamos um teto á reivindicação salarial para mantê-las”. O ato do 25 de Maio é uma estafa política. De outra maneira não se colocaria frente a mais antiga burocracia sindical e os velhos ponteiros de PJ. Nenhuma “causa nacional” pode ser deixada em suas mãos.

O PTS insiste em seu chamado ás organizações operárias e estudantis combativas, aos delegados e ativistas antiburocráticos, para impulsionarmos juntos uma consigna elementar de independência de classe nos locais de trabalho e estudo, explicando aos trabalhadores e aos setores populares que não vão ã Praça do Si de Kirchner, contrapondo uma campanha política operária ã propaganda oficial e das conduções gremiais.

A Repsol faturou 42.000 pesos por minuto em 2005. Desde que as empresas privadas tomaram o controle da YPF e Gás do Estado, extraem cerca 50% a mais de petróleo e o dobro de gás, exportados a altos preços internacionais. Repetiam o mesmo discurso de Menem de que a inversão do capital estrangeiro traía o progresso, a entrada ao Primeiro Mundo, o “derrame” da riqueza dos de cima para os pobres de baixo. Toda a maquinaria estatal se colocou a seu serviço: o Congresso, a justiça e certamente o governo nas mãos do PJ, mas também a UCR com Alfonsín (que recentemente visitou Kirchner). Até um Pacto de Olivos foi travado para a reeleição de Menem (a história volvtará a se repetir?), mas também para trazer ã tona a Constituição argentina com os novos direitos adquiridos das empresas imperialistas que teriam desembarcado. No caso do petróleo, a Argentina só pode ser comparada ã Bolivia pelo nível da entrega. Para tanto, o direito da Bolívia a dispor de seu petróleo deve ser defendido pelo soberano.

E toda política que, como a de Kirchner, garante a “segurança jurídica” das privatizações de Menem e o Pacto de Olivos deve ser tratada como “anti-nacional”. A Repsol, as petroleiras e as empresas de gás não deixam nada ao povo argentino. O velho colonialismo espanhol das caravelas de Colombo que deu início ao massacre dos povos indígenas para levar as riquezas naturais, introduziu as primeiras formas capitalistas em um mundo mais atrasado. Porém este imperialismo atual do Estado Espanhol só traz saqueio, é um capitalismo completamente parasitário.

Os trabalhadores e camponeses pobres da Bolívia, desde a rebelião que derrubou dois presidentes, concebe a nacionalização sem indenização dos hidrocarbonetos, para muito além da atual medida do presidente Evo Morales. E tem razão. Só a completa nacionalização sem indenizações ás empresas imperialistas e sob a administração direta dos trabalhadores -não de uma burocracia corrupta que viva a expensas de todos como na velha YPF-, pode ser a solução.
O PTS junto a socialistas internacionalistas da Bolívia, do Estado Espanhol, do Brasil, da Venezuela e de outros países, lançamos um chamado ás organizações combativas dos trabalhadores e da esquerda (ver págs. centrais) para impulsionar fortemente e de forma unitária, uma grande campanha internacional antiimperialista.

 

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