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Grande encontro de trabalhadores no coração industrial da Argentina
por : PTS, Argentina

29 Apr 2010 | O pátio de um colégio secundarista com bandeiras operárias a seu redor próximo aos balcões do primeiro piso, a poucas quadras do centro de Pacheco, foi o lugar eleito pela Comissão Interna (CI) de Kraft-Terrabusi para organizar um encontro operário da zona norte de Grande Buenos (...)

Após a grande luta dos trabalhadores da Kraft-Terrabusi em 2009 na Argentina contra as demissões, que terminou levando ã derrota a uma das patronais imperialistas mais concentradas do país, os trabalhadores elegeram uma comissão de fábrica anti-burocrática e conseqüentemente classista, integrada por Javier “Poke”, militante do PTS, organização irmã da LER-QI. Este exemplo de luta é muito importante, pois demonstra a potência do sindicalismo de base que começa a se desenvolver na Argentina, em que cada vez mais setores da classe trabalhadora iniciam um combate resoluto contra a patronal, os governos e as burocracias sindicais. Agora, a partir da Comissão Interna da fábrica Kraft-Terrabusi se chamou a um encontro de trabalhadores, que reuniu 400 trabalhadores de diversos setores.

O pátio de um colégio secundarista com bandeiras operárias a seu redor próximo aos balcões do primeiro piso, a poucas quadras do centro de Pacheco, foi o lugar eleito pela Comissão Interna (CI) de Kraft-Terrabusi para organizar um encontro operário da zona norte de Grande Buenos Aires.

Participaram uns 400 trabalhadores entre delegados, membros de Internas, dirigentes e ativistas das principais fábricas da zona. Uma esmagadora maioria operária, compartilhada pequenas delegações de estudantes da UNGS e UNLU, militantes de agrupações de esquerda e representas da FUBA perseguidos por Macri por fecharem as ruas em apoio à luta de Kraft, contou, além disso, com a saudação e adesão de Elia Espen, de Madres de Plaza de Mayo.

Os que estiveram presente...

Na mesa estiveram especialmente convidados trabalhadores e dirigentes de Zanon e Cerámica Stefani do Sindicato Ceramista de Neuquén, junto aos delegados das internas de Kraft, Pepsico e Donelley. Assistiram, além disso, delegados e trabalhadores de Arcor (Salto e Córdoba), trabalhadores de Felfort e outras fábricas da Alimentação; delegados e membros da Executiva do SUTNA San Fernando (FATE), de Ford, Volkswagen, Gestamp e outras plantas de metalúrgicos da zona. Delegados e trabalhadores de Pilkington, Bosch, Siderca, Finning-CAT, Frigorífico Rioplatense, Paty, Praxair, da Linha 60, dos hospitais Larcade, Castex e Mercante, professores de General Sarmiento, Tigre, Escobar e San Martín, além de trabalhadores pláticos e ceramistas da zona, têxteis, trabalhadores externos pertencentes a Comercio e ferroviários.

Uma escola para setores anti-burocráticos

O pátio da escola ficou cheio e transbordava de entusiasmo, com trabalhadores que voltavam a se encontrar junto a outros que se descobriam e apresentavam. Quanto tempo faz que não há um encontro dos setores combativos e anti-burocráticos desta magnitude? - perguntava um velho ativista. A iniciativa da CI de Kraft já havia sido exitosa. Leonardo Norniella, delegado da CI de PepsiCo, iniciou a plenária saudando aos presentes, em especial ás dezenas de ativistas e delegados da Alimentação.

Recuperar os exemplos dos anos 70

Tomou a palavra Javier “Poke” Hermosilla de Kraft, que recordou o tempo que levavam preparando este Encontro, e remarcou os eixos da convocatória: avançar em uma corrente de trabalhadores da Alimentação, na coordenação da zona norte e, a propósito do 1° de maio, levantar bandeiras históricas, mas muito atuais como a jornada de trabalho de quarenta horas semanais, entre outras. A corrente nacional da alimentação que se propõe é em base ao desenvolvimento de fortes agrupações que possam conquistar delegados e recuperar as comissões internas, na perspectiva de ganhar o sindicato. Todos os companheiros se entusiasmaram ante este desafio, que é o realmente novo que se abriu a partir do chamado “efeito Kraft”.

“A coordenação que se deu em Kraft”, relembrou, “esteve bem, mas foi improvisada. Necessitamos por de pé uma solidariedade e compromisso mutuo com as lutas que estamos levando adiante. Dar-nos uma coordenação na zona norte permanente; que se sustente no tempo. Tanto os Kirchner como a oposição coincidem em sustentar as condições de trabalho precarizadas, a terceirização e trabalhadores sem carteira assinada, assim como pagar a estafa da dívida externa”.

A classe trabalhadora deve ter objetivos grandes

Depois da intervenção de Hermosilla tomou a palavra Alejandro López, ceramista de Zanon, destacando que “é de suma importância este encontro, no coração do movimento operário argentino”.

“O marco é agora – continuou. Em crescimento podemos dar uma luta mais ofensiva. Com orientação e organização podemos ir para além e recuperar uma comissão interna. Não só para os ataques. Kraft demonstrou que se pode lutar contra uma patronal imperialista e contra o governo nacional. Temos uma nova etapa geracional, e se abriu uma instância onde estão despertando trabalhadores que querem lutar contra a burocracia sindical”.

Coordenação efetiva e concreta

“Alguns dizem que a coordenação é só para defender uma fábrica quando se pode parar”, seguiu, “que fazemos com esses companheiros que não podem para, mas sim podem prestar uma solidariedade, impulsionar um fundo de greve? São milhares os trabalhadores que não tem onde se apoiar. A coordenação concreta e efetiva é uma necessidade e temos uma responsabilidade”.

E, aclarando que não era o objetivo do encontro, fez referência ao programa político da Plenária de Trabalhadores Classistas: “necessitamos crescer no terreno político, não podemos entregar nossa confiança a senhores alheios para que governem; alheios a nossa classe”. Devemos “avançar no terreno político, em uma ferramenta da classe trabalhadora”.

Felfort e Arcor, presentes

Lorena Gentile, delegada da CI de Kraft, assinalou a necessidade da coordenação e desenvolver “três eixos: unidade, solidariedade e organização: a patronal deve saber que se atacam a um só operário, não estamos sozinhos”. Um companheiro de Stani opinou que uma das chaves deviam ser estender nas fábricas as “assembléias e respeitar a democracia operária; ser independentes da burocracia sindicas e que os delegados não se distanciem de seus setores”.

Logo chegou o turno do delegado de Arcor (Salto), que contou a situação nesse monopólio argentino: “desde o ano passado viemos com conflitos e companheiros demitidos. Temos falado com o sindicato, mas eles estão nos deixando de lado. Agora querem tirar nossos foros sindicais, e estamos fazendo medidas de força, com baixas na produção. Nós começamos a falar para tentar organizar uma espécie de coordenação com outros companheiros”.

Os operários de Felfort expressaram que “o conflito de Kraft nos deu força; a união nos dá força. O sindicato não apóia. Boicotaram-nos duas assembléias e hoje nos largaram antes para voltar a anulá-la”. Fechando uma companheira, denunciando que na fábrica de chocolate “tem muito manuseio e ataques contra as mulheres: Felfort é o pior. Mas estamos surpreendidos pela gente que está aqui e que tantos nos apóiem”.

Um encontro que abre perspectivas e convoca ao otimismo

A noite já se havia estendido em Pacheco. Era preciso ir fechando. Javier Hermosilla (“Poke”) da CI de Kraft, disse ao terminar: “há muitos anos que não se faz uma reunião deste tipo, com tantos trabalhadores, delegados e internas anti-burocráticas na zona. É um feito inédito, um primeiro passo que nos enche de otimismo”.

“Vimos também, concluiu, “a necessidade de avançar na unidade entre os trabalhadores da zona que somos atacados, como é o caso de Fate e Kraft onde existem pedidos de punição contra os trabalhadores, é preciso defendendo-nos mutuamente e apoiando-nos nas lutas que se empreendem, entre os trabalhadores e com todas as demais organizações sociais, estudantis e políticas. Resolvemos que é necessário que nas internas anti-burocráticas da zona discutamos a possibilidade de formar uma coordenação permanente”.

Leo Norniella, da CI de PepsiCo, fechou recordando que “nós queremos ter novas bandeiras para a classe trabalhadora, porque não podemos lutar somente para que a inflação não nos como o salários enquanto seguimos com a precarização e a flexibilização nascida nos ’90. Ainda temos turnos americanos, jornadas de 12 horas, turnos rotativos, sábados e domingos de trabalho. Por isso defendemos a luta por não trabalhar mais que quarenta horas semanais, pela redução da jornada de trabalho para que haja trabalho para todos, contra o pagamento da dívida para que haja saúde e educação”.

E como disse a própria convocatória, a 120 anos da primeira comemoração do 1° de maio: “Queremos um 1° de Maio onde os trabalhadores retomemos a luta contra a super-exploração ã que nos submetem, por uma semana de trabalho de não mais que quarenta horas e com um salário igual ã necessidade mínima das famílias (aqui seria o salário indicado pelo DIEESE) no caminho de ir reduzindo a jornada de trabalho e atacar a base da exploração que sofremos dia a dia”.

O compromisso de estar na segunda-feira acompanhando a Marcelo Gallardo, de Fate, citado nos tribunais foi unânime. A vontade de seguir avançando contra as patronais e a burocracia sindical era mais que evidente. Uma grande jornada de organização do sindicalismo de base havia concluído exitosamente.

 

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