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Jornada de luta histórica nos Estados Unidos
08 May 2006 |

Jornada de luta histórica nos Estados Unidos

Por: Celeste Murillo

Fonte: La Verdad Obrera N° 186

No 1° de maio viveu-se uma jornada sem precedentes, mais de dois milhões de pessoas foram ás ruas, em sua maior parte, imigrantes ilegais. Cresce a polarização entre a direita e os imigrantes e se intensifica o problema que deu origem ao movimento: o país mais poderoso do mundo se sustenta ás custas do trabalho de milhões, que não têm sequer os direitos fundamentais.

É difícil colocar em sua justa medida a magnitude dos acontecimentos deste 1° de Maio nos Estados Unidos. Já se passaram 120 anos após a morte dos mártires de Chicago e este dia se consagrou como data comemorativa da luta operária em nível mundial. Porém o 1° de Maio norte-americano é oficialmente o “Dia da Lei”, um dia de trabalho, como outro qualquer. Não há nenhum resquício que recupere a memória dos milhões que lutaram no 1° de maio levando ao fechamento de empresas e fábricas, já que a última greve massiva se remete a princípios do século XX. Portanto o fechamento de um número significativo de fábricas e empresas atribuiu a esta jornada um enorme peso simbólico.

A paralisação e o boicote geraram as primeiras divisões entre os imigrantes, sobretudo entre as duas grandes coalizões, “We Are America” (Somos a América) e a “Coalizão da marcha do 25/3” de Los Angeles. A primeira convocou a marcha e se manteve a margem do boicote, chamando ã prudência; a segunda encampou o boicote e a paralisação, ainda que sem a garantia de medidas que sustentassem as ações, uma vez que a central operária do país (AFLCIO) tomou parte nas convocatórias. Sem dúvidas, os imigrantes deram uma enorme mostra de vontade de lutar, arriscando seus postos de trabalho (grande parte sem apoio sindical). As ameaças durante as últimas semanas e a histeria racista espalhada por todo o país não foram o suficiente para impedir que se levasse a cabo esta jornada histórica.

Paralisações, boicote e novas mobilizações históricas
Mais uma vez marcharam milhões no coração do imperialismo, centralmente em Chicago, Denver e Los Angeles. Pela segunda vez, os imigrantes latinos, junto a importantes setores da comunidade asiática e árabe, bem como, em menor medida, negros e brancos, se mobilizaram amplamente nas principais cidades do país. A processadora de carne mais importante do país (Tyson Food) fechou em torno de 10% de suas 100 filiais por falta de funcionários. Grandes empresas latinas fecharam suas portas, como a maior distribuidora de alimentos Goya. No setor agrícola, a mobilização dos trabalhadores “sazonais” (sem direitos sindicais) se fizeram sentir com força, em várias regiões da Califórnia (especialmente no Sul) faltaram ao trabalho uma média superior a 50%. Hotéis e outras empresas de serviços sentiram na pele a ausência de trabalhadores. Em várias cidades foi notável o absentismo nas escolas secundaristas, sobre todo na Califórnia. Em Chicago, onde foi chamado o boicote, muitas empresas fecharam suas portas, em Washington a ausência de trabalhadores foi visível no trânsito e no comércio. Pequenos comerciantes latinos também aderiram ao boicote.

Segue o debate no Senado e nas próximas eleições parlamentares, na qual democratas e republicanos tratarão de dar respostas a uma sociedade cada vez mais polarizada. Por um lado a direita conservadora, que clama por uma fronteira militarizada (esta semana foi registrado o aumento recorde de afiliação voluntária ás patrulhas civis que “protegem” a fronteira, as chamadas Minutemen), reclama por endurecimento e é contrária a outorgação de qualquer direito aos imigrantes ilegais (que são mais de 11 milhões). Pelo outro, os imigrantes que abastecem setores importantes da economia, como o agrícola e os serviços. Até então o governo Bush não consegue sequer unidade dentro de seu próprio partido, que agrava suas divisões ante a cada passo. A patronal ianque exige a legalização de mão de obra barata, mas por outro lado não pode permitir que as mobilizações se fortaleçam e se radicalizem.

Hoje é vital o respaldo ã mobilização independente dos imigrantes e suas demandas, no enfrentamento com a direita que prossegue com os ataques, as direções do movimento (como a Igreja Católica, os partidos patronais e os burocratas sindicais) que criam ilusões em uma “legalização” restrita acordada no mesmo parlamento que vota o financiamento da guerra imperialista no Iraque, o mesmo parlamento que defende os interesses dos patrões e liquidam as conquistas operárias buscando nesse momento a divisão e os ataques aos trabalhadores.

Está nas mãos da classe operária norte-americana somar ás suas fileiras os que buscam recuperar sua tradição de luta, esta tarefa impostergável se concretiza hoje na defesa incondicional de todos os trabalhadores ilegais.

Um exemplo de solidariedade operária

Os caminhoneiros de Long Beach (Califórnia) conhecidos como os “troqueiros” (por trucker, caminhoneiro em inglês) deram um respaldo exemplar ã greve que paralisou 90% do transporte de mercadorias desde os portos da região sob a consigna “O povo, troqueiros e estudantes unidos” em solidariedade com a luta dos imigrantes.

De Nova York

Por: YM e AG, correspondentes da FT-CI

No 1° de maio participamos da importante manifestação de Nova York. Distribuímos a publicação "Emancipação Operária", em castelhano e inglês com a declaração da FT-CI. Ao chegar a Nova York partimos de "North West Bronx," onde ocorreu uma grande manifestação dos habitantes da comunidade local, quase todos latinos. Se formou uma "cadeia humana" pela rua, muito impressionante, com suas bandeiras, cartazes e consignas como, "Aqui estamos, aqui trabalhamos, e não partiremos. Se nos expulsarem, regressaremos". Caminhamos ao longo da cadeia para distribuir nossos boletins e pedir colaborações, a maioria dos participantes aportou de forma solidária. Marchamos rumo a Washington Heights, outro bairro nova-iorquino, onde tomamos um trem, de cortesia rumo a praça Union Square. A polícia tentou frear a marcha várias vezes para evitar que os trabalhadores cortassem a rua. Os manifestantes responderam cantando: "Bush: escuta, estamos na luta, não somos um, não somos cem, somos milhões, conte-nos bem". Havia muitos estudantes e jovens, conversamos com vários deles. As 2 da tarde (duas horas antes do início da manifestação), a Union Square já se encontrava cheia de gente, já ás 4 era muito difícil caminhar por entre os mais de 20 mil manifestantes.

 

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