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A marcha da coragem mineira
15 Mar 2006 |

A marcha da coragem mineira

Por: LTS

Mineiros unidos, jamais serão vencidos! Queremos nossa gente! Castigo aos culpados! Estas eram as principais consignas entoadas durante a marcha em Nueva Rosita, Coahuila e que causou comoção nesta serena população de trabalhadores mineiros.

Esta marcha foi algo inédito na zona carbonífera nos últimos decênios (desde a marcha dos trabalhadores, esposas e filhos dos mineiros em direção ã capital do país, em 1951, que impactou toda esta região mineira), e contou com a adesão de mais de 300 pessoas. Os familiares distribuíram milhares de panfletos para convocá-la e as pessoas dos povoados próximos ã mina, como Palaú, San Juan e La Agujita responderam ao chamado.

Pouco a pouco foram se juntando aos familiares, mineiros, amigos e ao povo em geral. Já tinha passado das onze da manhã, e foi necessário esperar um pouco mais, pois muitos vinham a caminho. A mudança repentina de trajeto da marcha atrasou os participantes, mas se garantiu uma carreta que anunciava esta mudança, e finalmente chegaram. Partiria da simbólica pracinha onde está o Monumento ao Mineiro (em homenagem aos mineiros mortos pela explosão de 1939), localizado em frente ã Escuela de Minería de Nueva Rosita. Daí começou a chegar desde as dez da manhã os familiares, os operários, os amigos, conhecidos e gente do povo.

Todos levavam os nomes dos 65 mineiros em cartolinas estão soterrados: “Queremos Eduardo Martinez”, “Queremos José Isabel”, e assim por diante. Aí mesmo seguiram elaborando mais cartolinas para que todos levassem uma, ainda que não fosse de seu familiar. De todos os modos as pessoas sentem que os 65 mineiros são de todos. Dona Benita, uma robusta senhora, originária de Palaú se aproxima e pede uma cartolina. “O que diz aí?” - pergunta, pois não sabe ler. Toma a cartolina com segurança e diz “este é de Palaú, eu vou levar”. Há muitas crianças participando. Ana de nove anos leva sua cartolina: “Quero meu tio”.

Começa a caminhada, e alguns se vêem cansados, pois os dias anteriores foram de duros trabalhos preparativos, que vão desde tentar pela manhã bem cedo publicar os panfletos nos jornais ou alcançar os ônibus que passam com os trabalhadores para levá-los ás minas. Os gritos entoam as demandas principais: “Castigo aos culpados”, “Familiares e mineiros unidos, jamais serão vencidos”. Uma mais faz alusão ao pedido dos familiares para que se apressem as ações de resgate “Queremos nossos entes queridos, Já!”. Júlio tem abaixo seu compadre, e pintou as janelas de sua caminhonete que acompanha a macha “Nunca mais outra ‘Pasta de Conchos’”, “Queremos José Eduardo”. Despedido há um mês de Pasta de Conchos por exigir seus direitos, Júlio sabe bem o que é estar aí embaixo trabalhando nas minas, e por isso está atuando como voluntário no resgate. “Se eles não querem descer, nós descemos e os tiramos”.

Durante o trajeto vão se lendo os nomes dos 65 mineiros e as pessoas os vão repetindo, fazendo eco pelas ruas de Nueva Rosita. Por aí alguém grita “Já vamos chegando, IMMSA está tremendo”, mas não há muita resposta, talvez por que saibam que o cordão de impunidade, estendido pelos governos federal e estatal, que rodeia os patrões é muito forte. Aí fica claro que os verdadeiros culpados são a empresa, os burocratas da cúpula do sindicato mineiro, e as autoridades do governo. Os funcionários sindicais apareceram anteontem, depois de 15 dias, e apenas para prometer gestões para o resgate e proteger a empresa. Na marcha, um familiar lhes questiona “Quem o elegeu? Os mineiros não foram! Certamente foi este Gómez Urrata”.

Não deixa de gritar, e chegando a IMMSA estala o grito: Assassinos! Assassinos!, as crianças começam a chorar e as esposas a sacudir barras de ferro. Uma porta cede ás sacudidas e os manifestantes, gritando pelos seus entes queridos, entram sem pestanejar; se quebram alguns vidros e as portas da oficina são chutadas. Assim, a raiva que cresce mais ainda ante os informes mentirosos e manipuladores dos supostos avanços, e muito mais quando dizem que já ninguém quer entrar no trabalho de resgate. MIMOSA e outras empresas têm se negado a disponibilizar seus esquadrões de resgate, por isso os familiares têm formado um corpo de voluntários. Começam a tomar a questão em suas mãos ante a indiferença das autoridades e o próprio governo estatal. Não permitirão que se tranque a mina com eles dentro, enquanto a empresa lava suas mãos. Como eles mesmos dizem, deixam passar o tempo que fará difícil encontrar evidências, e se desgaste o acampamento dos familiares. Mas alguns dizem com segurança, “a luta apenas começa”.

Por sua vez a imprensa alerta contra a “violência” da marcha. Seguramente recordam os grandes gestos que tiveram os mineiros desta conhecida zona mineira em décadas passadas.

 

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