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Greve contra o teto salarial de Brown
por : Alejandra Ríos

05 Aug 2008 | Nos dias 16 e 17 de julho, 650 mil trabalhadores do setor estatal e dos municípios de Inglaterra, Gales e Irlanda do Norte...
Greve contra o teto salarial de Brown

Nos dias 16 e 17 de julho, 650 mil trabalhadores do setor estatal e dos municípios de Inglaterra, Gales e Irlanda do Norte saíram entraram em greve contra o congelamento salarial imposto pelo governo trabalhista de Gordon Brown. A paralisação teve uma adesão grande e paralisou a atividade de escolas, oficinas do estado, bibliotecas públicas, centros de arte e de esportes. Além disso, se viu afetado o serviço de coleta de lixo, e se cancelaram vôos no aeroporto irlandês de Derry e as balsas em alguns portos que se encontram sob administração municipal, afetando setores que cumprem uma função vital na comunicação e comércio com o resto da ilha.

A gota d’água foi a oferta do governo de Brown que estabelecia um máximo de 2.45% de aumento salarial quando o índice de preços ao consumidor segundo dados oficiais é de 3.8% e a inflação se estima em 4.8%, ameaçando chegar aos 5% para o fim do ano. As cotas das hipotecas aumentaram 8%, os produtos básicos como leite, pão, petróleo, gás e eletricidade têm ido ás nuvens, sofrendo o maior aumento dos últimos 25 anos. Por isso a oferta salarial do governo é denunciada pelos trabalhadores como um “corte salarial” a seus já magros salários que há 10 anos vêm ficando pra trás do nível da inflação.

À luta têm abarcado empregados de oficina, bibliotecários, assistentes docentes e auxiliares de escolas (pessoal de limpeza e cozinha), e lixeiros, os setores mais atrasados e onde a maioria da força de trabalho é composta por mulheres e imigrantes. Cobrir as necessidades alimentícias de uma família tem aumentado consideravelmente, o preço da manteiga triplicou, o preço do leite, do pão e do queijo aumentou 20%, e a cesta familiar típica custa 10% mais que ha um ano atrás.

Estima-se que durante os dias de paralisação só na Inglaterra e Gales fecharam cerca de 11.000 escolas e 70% das principais escolas fora de Londres se viram obrigadas a permanecer fechadas por falta de pessoal que havia aderido ã paralisação. Montaram-se piquetes espontâneos em muitas escolas e se organizaram marchas nas cidades mais importantes do país. Em vários casos, os professores primários- agrupados no sindicato NUT que se negou a chamar a greve para submeter-se aos chamados- compareceram ás escolas mesmo estas estando fechadas(pela paralisação do pessoal não docente e ajudantes de docentes) para expressar solidariedade com seus companheiros de luta, demonstrando a potencialidade que haveria tido uma greve conjunta contra o governo.

Alguns meios de comunicação têm se animado a dizer que se trataria de uma das maiores ações de luta desde a greve geral de 1926, enquanto outros tem apelidado-a de “verão do descontentamento”, em referência ã onda grevística de dezembro de 1978 e janeiro de 1979 conhecida como o “inverno do descontentamento”, quando os trabalhadores britânicos saíram a enfrentar o teto salarial da administração trabalhista da época.

Os sindicatos e o trabalhismo

As organizações sindicais por trás da medida, UNISON e UNITE, encontram-se entre as mais poderosas do país. UNISON é o maior sindicato do setor público da Grã Bretanha e da Europa e conta com mais de 13 milhões de membros. De acordo com seus líderes trata-se do início de uma campanha na qual se decidirá essa semana os passos seguintes, na Escócia já estão realizando votações para decidir se vão ã greve ou não. Por outro lado, UNITE, com 2 milhões de membros é o maior sindicato do reino Unido e agrupa todas as indústrias, profissionais e também aos trabalhadores dos governos municipais, entre outros.

O argumento do governo e das autoridades locais é que um aumento salarial maior seria uma medida inflacionária e pedem aos trabalhadores que se ajustem aos cinturões para poder contornar a crise da qual são vítimas, enquanto seus verdadeiros responsáveis se encontram sentados em folgadas poltronas com cômodos “prêmios” ou “bônus” salariais.

Mas os trabalhadores do setor estatal não têm sido os únicos a partir para a briga, já que em uma ação separada o sindicato dos trabalhadores de serviços públicos e comerciais sairão em greve em poucos dias.

No dia 24 de abril passado presenciamos uma grande jornada de luta dos docentes primários, secundários, universitários e empregados dos serviços públicos em protesto contra essa mesma política (La Verdad Obrera N° 275).

Tal ação, somada ã paralisação de 48 horas da semana passada e ás ações já anunciadas por outros setores poderiam antecipar uma onda de lutas. Esse é um sinal alentado em um país onde não se viam ações desse tipo desde a derrota infringida ao movimento operário sob o governo conservador de Margaret Thatcher, e poderia estar adiantando um processo de lutas mais combativas em um marco econômico que já começa a mostrar elementos de crise em um dos países mais estáveis do continente europeu.

Como resultado da derrota infringida pelo thatcherismo, a classe operária britânica tem sido fragmentada suas organizações sindicais têm se debilitado. Por isso a mostra de solidariedade de setores que não estavam em luta com seus irmãos de classe é um sinal alentador frente ao legado conservador mantido pelo governo trabalhista de Tony Blair.

Por outro lado, o Novo trabalhismo se apoiou durante o mandato de Blair em grandes contribuições dos homens de negócios e industriais mais influentes e ricos do Reino Unido, fato que por outro lado significou grandes escândalos já que não tem declarado as “contribuições” desses poderosos empresários. Nesse momento, o trabalhismo depende mais economicamente dos aportes financeiros provenientes dos mesmos sindicatos, fato que os coloca em uma situação de maior poder de negociação frente ao governo. Se bem que isso não liquida o papel dos sindicatos, é uma debilidade na qual pode colar-se a raiva e o nojo dos trabalhadores frente a perda de seu poder aquisitivo.

Começar a enfrentar os ataques

Os trabalhadores tem feito um chamado ao conjunto da população, ressaltando a importância de seus serviços para a comunidade, desde a limpeza das ruas e dos parques, o cuidado das crianças nas creches, a limpeza e o estado dos alimentos nas escolas e os trâmites de certidões de nascimento, casamentos, etc. Apela a seu papel na comunidade para pedir o apoio do resto dos trabalhadores e o apoio a sua luta por um salário digno. Apesar do protesto ter sido massivo, os sindicatos tem evitado que os trabalhadores da saúde, também representados pela UNISON, saiam a luta.

Para frear frente aos ataques anti-operários será necessário organizar ações maiores onde os trabalhadores do setor público busquem uma aliança com os trabalhadores do setor privado, nativos e imigrantes lutando por uma política independente que supere o marco das brigas corporativistas de pressão que impõe as direções sindicais. Mesmo se os trabalhadores conquistam o aumento salarial de 6% só estariam compensando parte da perda de seu poder aquisitivo nos últimos anos, já que as direções sindicais não lutam por um aumento salarial de acordo com o índice de inflação.

Em nossas páginas viemos denunciando a política anti-operária da União Européia: como as diretrizes xenofóbicas anti-imigrantes e o aumento da jornada de trabalho. Com esse pano de fundo, a “revolta salarial” representa uma contra-tendência que apostamos que se desenvolva, ainda que a burocracia sindical tenha dividido a luta dos diferentes setores. A mobilização e as mostras de solidariedade mostram a disposição à luta dos trabalhadores, nessa perspectiva é necessário unificar as reivindicações de todos os setores que vêm se manifestando para quebrar a política do governo.

Traduzido por Beatriz Michel

 

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