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O FED - Banco Central dos EUA- tenta evitar um crack
por : Juan Chingo

17 Mar 2008 |
O FED - Banco Central dos EUA- tenta evitar um crack

Bear Stearns, o quinto banco de investimento especializado em bônus mais importante dos EUA, que estava ã beira da falência teve que ser resgatado pela Reserva Federal de Nova York, para o qual contou com a ajuda do banco JP Morgan Chase, que facilitará o acesso a uma linha de financiamento especial. Esta ação por parte da Reserva Federal de Nova York está prevista para casos excepcionais. Invocando a pouco usada provisão agregada Federal Reserve Act em 1932, no pico da Grande Depressão, o Banco Central norte-americano permitiu que a Reserva Federal de Nova York assegurasse uma infusão de dinheiro a Bear Stearbs com a ajuda do banco de investimento JP Morgan Chase [1].

Como banco de investimento, Bear Stearns não tem acesso ã vantagem de desconto que o Banco Central pôs em marcha para amenizar as turbulências financeiras. Por isso a entidade utilizou o JP Morgan Chase como canal para participar no leilào de fundos que acontecerá em 27 de março. Mas na realidade, o que se obteve foi um período de 28 dias de benefícios, e depois disso suas possibilidades de sobrevivência se tornam difíceis, incluindo a possibilidade de que Morgan adquira Bear Stearns a um preço rebaixado. Em outras palavras, a ação da Reserva Federal de Nova York é o mais parecido da tentativa de bancarrota ordenada de tal banco, que ele mesmo se provoque em forma desordenada.

A operação de resgate se realizou um dia depois do colapso do Carlye Capital Corporation, um fundo de investimentos de 22 bilhões de dólares controlados pelo Carlyle Group, uma das mais rentáveis e bem conectadas firmas de capital privado nos EUA. Por sua vez, e como uma mostra das implicações que o colapso da Bear Stearns pode ter, o valor das ações da Ambac Financial Group, o segundo assegurador de bônus do mundo, caíram 93% devido aos estendidos temores de que a companhia não tenha capital suficiente para alcançar a cobrança de seus credores.

Estes elementos mostram, por um lado, a profundidade da crise que golpeia as principais instituições do sistema financeiro norte-americano e confirma, por outro lado, que os extraordinários anúncios três dias antes do Banco Central norte-americano de destinar 400 bilhões de dólares, quase a metade dos fundos de que dispõe, para conceder assistência financeira ás instituições de crédito afetadas pela crise e a aceitar como garantia títulos hipotecários cujo valor de mercado está caindo, foi uma medida desesperada com o objetivo de prevenir a queda de um peso pesado de Wall Street. [2] Se o Bear Stearns fosse forçado a vender seus ativos por um preço muito baixo para obter dinheiro para fazer frente ã demanda de seus credores, o valor de incalculáveis milhões de ativos nas mãos de outras instituições iriam cair, levando a mais cobertura complementar (margin call) [3] dos credores, mais colapsos institucionais, mais pânico vendedor de dívida ou títulos - um círculo vicioso para baixo com a potencialidade de provocar uma crise sistêmica no sistema financeiro capitalista.

Isso foi o que aconteceu precisamente nos anos 30. Mas apesar do respiro temporário para o Bear Stearns não se pode eliminar a probabilidade deste cenário no futuro próximo.

A próxima fase do colapso financeiro: o temor ás grandes bancarrotas

Há que relembrar a crise bancária da Grande Depressão para encontrar um momento no qual o sistema financeiro de conjunto parece próximo do precipício. Disso deriva a desesperada ação de resgate do Banco Central dos EUA. À diferença de outras ações deste tipo como o Continental Illionis em 1984, ou mais recentemente, o gigante hedge fund Long Term Capital Management em 1998 [4], a débâcle do Bear Stearns é mais perigosa. É que sua queda dificilmente poderia ser contida numa situação em que outros bancos, hedge funds, e outras entidades financeiras estão mergulhadas na mesma dívida tóxica: hipotecas subprime, cartões de crédito, empréstimos para automóveis e montanhas de títulos invendáveis do boom de fusões [5].

Assim durante toda a semana vinha circulando nos mercados que Lehman Brothers, que se calcula que tem uma exposição de títulos tóxicos ABS/MBS, estaria tão mal como Bear. No dia 15 de março recebeu uma linha de crédito não assegurada de 40 prestamistas. Isto é, ima operação de salvação privada. Por sua parte, Fannie Mae and Freddie Mac - as respeitadas agências criadas por Rossevelt que tem 60% dos 11 bilhões do mercado hipotecário - estão sob suspeita de crescente incapacidade de cobrança. Seus bônus entraram em queda livre, ameaçando desatar uma nova onda de previsões de perdas dos bancos. Tomemos em conta que não estamos falando de entidades especializadas no segmento subprime, senão das firmes líderes da indústria de crédito hipotecário. (Daí a medida do Banco Central de aceitar seus bônus desvalorizados como colateral).

Bear Stearns foi o primeiro banco a admitir a um ano que vários de seus hedge funds (fundos especulativos) estavam ã beira da liquidação, pela perda de valor de seus ativos vinculados a hipotecas subprime. Mas não se trata de um caso isolado. Outras grandes entidades financeiras de Wall Street poderiam encabeçar uma bancarrota.

Apesar de suas medidas excepcionais, o Banco Central é impotente frente ã crise

Cada vez é mais visível que os esforços do Banco Central dos EUA, ainda apesar de que são sem precedentes por sua escala, provavelmente não serão suficientes para deter a espiral descendente da economia. Não podem frear a queda dos preços das moradias. Tampouco podem prevenir que as dívidas se declarem em default ou que a economia entre em uma recessão severa. Muito pelo contrário. A derrocada do Bear seguramente fará com que o Banco Central dos EUA em sua próxima reunião em 18/3 baixe suas taxas de juros.

Entretanto, o caos financeiro fez com que os bancos não tenham vontade de se arriscar mais, sendo cada vez mais difícil para os negócios contrair empréstimos, com o conseqüente aprofundamento do efeito recessivo na economia que ameaça em se transformar cada vez mais em uma recessão profunda e prolongada, distinta das últimas crise recessiva nos EUA.

Pior ainda, o risco colateral de suas ações se aprofundam enormemente como mostra o colapso do dólar ou a inflação dos preços das matérias-primas e commodities obviamente em relação ã sua cotização em dólares. O fato de que os EUA aposte em sua salvação da crise de crédito debilitando mais ainda sua moeda poderia provocar um dano brutal ao já deteriorado mercado internacional de capitais. A forte depreciação do dólar levou a que se desfizesse em forma massiva do chamado “carry trade” como demonstra a rápida escalada sem final ã vista do yen, que exacerba o desendiviamento já em curso. Não nos esqueçamos que hoje em dia, diferentemente dos anos 30, o dólar é a moeda de reserva mundial. Uma rápida declinação na moeda de reserva cria uma tremenda instabilidade internacional, e pode prejudicar as instituições financeiras de outros países, complicando ainda mais o funcionamento dos mercados de capitais [6].

Cada vez está mais claro que grande parte da bolha das commodities se deve ã especulação e quanto mais o Banco Central se compromete em medidas desesperadas, maior quantidade para os que especulam em commodities. Neste marco, a medida que o galào de gasolina nos EUA ou o preço do pão seguem subindo, a margem de manobra interna do Banco Central se estreita e cresce a hostilidade contra sua ação.

Uma bomba política para o próximo presidente norte-americano

Neste ponto junto ã difícil tarefa de sair do pântano do Iraque e do Afeganistão, provavelmente o maior problema para a próxima administração norte-americana será como salvar o sistema financeiro, a elevada carga que para os cofres públicos que o mesmo significa, e como vender este plano de salvação dos bancos aos trabalhadores, que não receberam nada dos anos de bonanza - enquanto os CEOs das empresas e os super-bilionários alcançam lucros imensos - agora o sistema se presta a socializar suas perdas. Assim, a partir das páginas de Wall Street Journal se discutem opções para salvar os bancos, dentre as quais vai ganhando espaço a idéia de que o governo utilize uma boa parte do dinheiro dos contribuintes para limpar a atual desordem, chegando em algumas propostas ã nacionalização dos grandes bancos, aqueles considerados muito grandes para cair.

As estimativas do tamanho das perdas da atual crise financeira sobem a cada dia. Se a meados do ano passado se considerava que as perdas chegariam a 15 bilhões de dólares, depois 40 bilhões, hoje se considera o piso de 1 trilhão de dólares, inclusive para firmas pouco alarmistas como Goldman Sachs, cujos economistas publicaram uma estimativa ainda maior das possíveis perdas do mercado hipotecário de 500 bilhões de dólares, conjuntamente com 650 bilhões de dólares de outras perdas, um total de 1,156 trihões de dólares [7].

Inclusive Martin Wolf, o economista líder do Financial Times conhecido geralmente por suas posições cautelosas, hoje não estão tão seguros de que não possam se dar os cenários excessivamente pessimistas. E se referindo ás conseqüências destes diz: “Perdas de 2 ou 3 trilhões de dólares descapitalizariam o sistema financeiro. O governo deveria montar um resgate. O meio mais plausível de fazê-lo seria via nacionalização de todas as perdas. Enquanto que o governo dos EUA pode se permitir elevar sua dívida por cima de 20% do seu PIB em função de fazer isso esta decisão teria enormes ramificações. Teríamos algo mais que a maior crise financeira nos EUA desde 1930. Seria um evento político definidor da época”. [8] Neste marco, a politização da crise econômica e financeira pode mudar substancialmente o curso da luta de classes e a relação de forças entre as classes a nível mundial, gerando estalos de conseqüências imprevisíveis para um sistema capitalista em aguda decomposição. É frente a esta perspectiva que nós, revolucionários, temos que nos preparar.

 

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