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Brasil- Debates

Sobre o Colóquio A Esquerda na América Latina ocorrido na USP

23/09/2012

Por Simone Ishibashi

Durante os dias 11, 12 e 13 de setembro de 2012 ocorreu na USP o Colóquio “A Esquerda na América Latina: História, Presente e Perspectivas”. O ciclo de debates reuniu os principais nomes da intelectualidade marxista acadêmica, além de alguns da esquerda, para discutir mais variados temas relacionados à quele que deu nome ao evento. Tratou-se de uma iniciativa impulsionada pelo professor do Departamento de História ligado ao Partido Obrero, e radicado no Brasil há algumas décadas, Oswaldo Cogiolla, e de outros professores da USP, como Lincoln Secco e Jorge Grespan.

Este ciclo de debates contou com uma ampla presença de público. Isso é uma confirmação da continuidade de um fenômeno ideológico que se caracteriza por um interesse renovado em relação a teoria marxista, e neste caso aos debates políticos que envolvem a esquerda. Ao ter como um dos principais organizadores um membro do PO, que busca com isso estreitar os laços com a intelectualidade marxista no país numa tentativa de compensar a bancarrota do CRCI, este Colóquio foi mais político que os organizados pelo marxismo acadêmico. No que se refere aos debates internacionais, discutiu-se também uma série de temas, como a questão do bolivarianismo e do capitalismo andino, a situação de Cuba hoje, e a crise capitalista mundial e seus desdobramentos para a esquerda latino-americana, além de uma mesa dedicada ã FIT argentina e ao balanço das frentes de esquerda no Brasil. Também abriu-se espaço para debates sobre a reorganização dos trabalhadores e da esquerda frente ao PT, que orientações devem ter organizações sindicais como a Conlutas, além do balanço da greve das universidades e trabalhadores federais.

Justamente por este caráter é que, apesar de saudar como positiva a iniciativa de levar estas discussões para o interior da maior universidade do país, criticamos em algumas de nossas intervenções a organização do evento por não incluir os membros do SINTUSP, que estão sendo processados por terem lutado pela unidade das fileiras operárias ao defenderem os terceirizados. E isso enquanto se abriu um amplo espaço para intelectuais e representantes do PT, que fizeram falas em diversos debates contra o capitalismo sem considerar o mero “detalhe” de que estão no partido do governo, além de membros do eterno stalinismo em crise do PCB. Entendemos que este Colóquio deveria servir para, além de discutir temas amplos do marxismo e da esquerda, ser uma plataforma para articular campanhas em defesa dos setores que lutam e estão sendo ameaçados no interior da própria universidade, e fora dela, como produto do endurecimento do governo Dilma em relação ao movimento operário. E também para expressar a esquerda revolucionária latino-americana. Neste sentido, nos pareceu também que a ausência do PTS na composição das mesas foi igualmente uma debilidade.

Em meio ã infinidade de mesas que ocorreram, destacam-se duas. Uma foi aquela em que Jorge Altamira participou, referente ã crise capitalista, dividindo-a com Valter Pomar, um dirigente do PT, e Plininho de Arruda Sampaio, membro do PSOL. Altamira colocou as principais definições sobre o que significa a época imperialista para Lênin, ressaltando que as consequências políticas que se abrem questionam novamente a tese do ultraimperialismo de Kautsky, como se vê nas tensões entre os países da União Europeia. Assinalou que a restauração do capitalismo na China abriu uma nova contradição ao acelerar a crise com a dívida pública dos EUA.

Porém, o debate mais importante desta mesa desenvolveu-se entre Plininho de Arruda, pois este interveio contra Valter Pomar por continuar no PT, o que foi a discussão real da mesa. Em suma, Valter Pomar defendeu a ALBA, e disse que a esquerda é mais forte na América Latina, o que faz com que se tenha que discutir que espaços ocupar e com qual política. Ademais da crítica a Pomar, Plinhinho defendeu a “construção de uma força política capaz de enfrentar o poder global”, denunciou o governo Dilma dizendo que há “muito Estado para defender o capital e pouco para as políticas públicas”. Apesar do conteúdo da intervenção de Plininho ter sido dúbia o suficiente para agradar também aos bolivarianos de distintos matizes, sua polarização com Pomar pela participação deste no PT, algo raro nos espaços acadêmicos, terminou dando a impressão ao plenário de que este seria mais a esquerda.

O plenário não pôde intervir oralmente, tendo que enviar suas perguntas escritas ã mesa, numa reprodução da dinâmica acadêmica mais hierárquica. Mas, mesmo assim, Altamira teve que responder a uma questão enviada por uma companheira da LER-QI que contestava o apoio do PO ao Syriza. Em sua resposta basicamente igualou a política de apoiar o Syriza com a participação da FIT no ato convocado por Moyano, com o argumento de que da mesma maneira que estava colocado na Argentina acompanhar a classe trabalhadora que se manifestava contra o governo sem mesclar isso com o apoio ã política burocrática, na Grécia há que “acompanhar a ruptura da classe trabalhadora com o PASOK”, e colocar de pé comitês nos locais de trabalho para chamar a conformação de um governo da esquerda com o Syriza adiante. Não respondeu a questão do que é o Syriza, como fenômeno superestrutural e eleitoral, sem nenhuma ligação orgânica com a classe trabalhadora, o que só isso já torna a analogia com a participação dos atos convocados por Moyano descabida, além da deturpação da política de governo operário e camponês.

Ademais houve uma importante mesa sobre a Frente de Esquerda no Brasil e na Argentina, em que estiveram Valerio Arcary do PSTU, Babá da CST (UIT) e Pablo Rieznik (PO). Neste debate Pablo fez uma intervenção dando peso para o projeto de avançar na unidade da esquerda, citando exemplos como o Syriza. Valério interveio colocando que o programa define, mas ás vezes a correlação de forças empurra os revolucionários a fazerem determinadas frentes. Colocou uma visão crítica da frente de esquerda no Brasil em 2006, dizendo que apesar de serem iguais, era qualitativamente diferente da FIT porque esta se deu entre partidos revolucionários. Ademais reivindicou o Syriza. Desde a LER-QI intervimos colocando a importância da atuação do PTS na FIT, e discutindo sobre a atuação do movimento operário, falando sobre a questão das táticas eleitorais e sindicais ligadas ã estratégia, expressando uma posição crítica sobre as alianças do PSTU com o PCdoB, um partido governista, em Belém.

Gilson Dantas, membro da LER-QI e do conselho editorial da revista Contra Corrente, participou de uma mesa intitulada Marxismo e Ecologia. Entretanto, não se restringiu ao tema, e desenvolveu em sua fala a discussão sobre o caráter estratégico do pensamento de Leon Trotsky, como o marxismo revolucionário do século XXI. Além disso, foi amplamente divulgado o ciclo público de debates Por que Trotsky? que a LER-QI promoverá a partir de outubro, e foi lançada a revista Contra Corrente dedicada a debater a repressão de ontem e hoje.

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