FT-CI

Tragédia no Rio de Janeiro

No Brasil de Lula a promessa da potência emergente desmorona-se no barro

17/04/2010

A tragédia que se acometeu sobre o Rio de Janeiro já custou 231 vidas, centenas de pessoas desaparecidas, 56.000 evacuadas e 14.000 que perderam suas casas. Ao contraio de ser algo inevitável, e devido exclusivamente a uma chuva imprevista (cerca de 300mm em 24hs) como afirmaram o governador Sérgio Cabral (PMDB, partido aliado do governo) e o presidente Lula (PT), a inundação era algo completamente previsível já que existem registros históricos no Rio de chuvas recorrentes de mais de 200 mm. Em 24 horas, e desde décadas atrás numerosos estudos geológicos já apontavam diversos morros como áreas de risco. A falta de infra-estrutura e preparação a estas chuvas recorrentes afetou o conjunto da cidade. No entanto, as mortes estão concentradas fundamentalmente nas áreas dos morros (no Rio de Janeiro denomina-se “morros” tanto uma favela localizada em um acidente geográfico, como o próprio acidente geográfico - desnudando assim a profunda desigualdade de quem são os principais atingidos por esta tragédia).

A demagogia de Lula

Lula declarou que não pouparia esforços para ajudar o Rio de Janeiro a se recuperar. Disse isso no mesmo dia que o principal jornal do Rio, O Globo, denunciava que as verbas destinadas a outra tragédia “natural”, em Angra no final de 2009, chegou somente no dia 11/04 ã cidade.

Para a tragédia do Rio, Lula destinou 200 milhões de reais, enquanto que no final de 2008, frente ao primeiro anúncio da crise internacional, distribuiu preventivamente R$ 300 bilhões para os banqueiros e os empresários que ao mesmo tempo demitiam 1 milhão de trabalhadores. Em comparação com a ajuda aos capitalistas, Lula gastou 0,06% com a tragédia que atingiu, sem piedade, a população do Rio! Uma das maiores favelas do Rio, Manguinhos, modelo do plano oficial de moradia chamado “Minha casa, minha vida” apresentado pelo governo como o plano que resgataria o povo pobre da humilhação, em poucas horas estava inundada. E para completar, os moradores, sem nenhum apoio do Estado para seu resgate, contavam somente com ajuda mútua para não se afogarem. Podemos concluir que, a tragédia do Rio de Janeiro proporciona um retrato gráfico do governo capitalista de Lula.

Militarização e remoções de favelas: a resposta da burguesia

A população atingida pelos desmoronamentos e enchentes é, sobretudo, a que vive em morros e favelas. É necessário considerar que a população pobre que vive nas favelas do Rio, ao contrario de como é costumeiro estigmatizar como exclusivamente de narcotraficantes, está integrada por um grande contingente de trabalhadores precarizados (que inclui setores terceirizados de importantes indústrias como a petroleira), que compõem a heterogeneidade que caracteriza hoje a classe operaria. A política do Estado brasileiro frente ã pobreza urbana tem dois extremos que se complementam: os massivos planos sociais e a política assistencialista das ONG, combinados sempre com a repressão seletiva dos pobres.

Se antes das tragédias o governo do Rio com o apoio de Lula já vinha implementando uma política repressiva de ocupação dos morros, proibindo qualquer manifestação política, cultural ou social que não sejam autorizadas pela polícia de ocupação (as Unidades de Policiamento Permanente – UPPs), agora sua resposta de militarização e remoção forçada dos morros aprofunda a mesma sanha repressiva para organizar uma nova cidade para o capital.

O prefeito aliado a Lula já emitiu o decreto 32.081, autorizando a remoção forçada e começou com 8 favelas, desalojando cerca de 12.000 pessoas. Cinicamente, o governo do Rio aponto os próprios afetados como os “culpados” da tragédia: “O governador Sérgio Cabral (PMDB), ao lado do presidente Lula da Silva (PT) e com sua aprovação, se apressou em definir os responsáveis pelas mortes: os habitantes das favelas cariocas, que insistem em construir em áreas de risco... E se a remoção é a solução, Cabral também anunciou que a Polícia Militar estava ã disposição de todos os prefeitos para efetivar essa política” (Correio da Cidadania, 10/04). Esta política repressiva do governo estadual e nacional contra a população dos morros está inspirada na experiência adquirida pelo exército brasileiro que há seis anos ocupa o Haiti. A repressão ã pobreza, que o próprio sistema capitalista gera, é promovida pelo imperialismo em nosso continente e no mundo inteiro. Por isso, desde a LER-QI, impulsionamos também uma campanha internacionalista nos sindicatos, universidades e locais de trabalho, pela retirada imediata das tropas brasileiras do Haiti.

A burocracia sindical dá as costas aos pobres

Neste panorama trágico e desesperador, ocorreram manifestações espontâneas de indignação nas comunidades mais afetadas, particularmente em Niterói, com vaias ao governador. Mas a cumplicidade da burocracia sindical com as medidas dos governos não somente impede que estas respostas da população se coordene, mas também que se transformem numa força independente. A maioria dos sindicatos da CUT (Central Única dos Trabalhadores, ligada ao PT) não fez nenhuma exigência ás empresas para quê seus lucros e recursos estejam ã serviço das necessidades populares diante da emergência, nem sequer uma campanha de solidariedade elementar como a coleta de alimentos e roupas. Outras inclusive foram mais alem, como a Federação Única dos Petroleiros (FUP) que, ao invés de organizar a solidariedade, de exigir ã Petrobrás que libere suas centenas de geólogos e milhares de engenheiros e técnicos para ajudar na avaliação dos riscos e reconstrução das moradias, publicou elogiosos textos aos governos.

É preciso uma resposta que da classe trabalhadora

Desde a LER-QI temos chamado ã esquerda para se colocar como uma alternativa começando por organizar uma forte campanha de solidariedade e impedir que se aplique a política repressiva e o decreto de Paes. Mas, apesar de considerarmos que diante da emergência estas medidas são fundamentais, somos conscientes de que frente ã crise estrutural são completamente insuficientes, e por isso chamamos a votá-las em todos os sindicatos, empresas, escolas e faculdades, a necessidade de um plano e obras públicas controlado pelas organizações operárias e de moradores e um plano de luta para impô-lo.

De nossa parte, buscamos que seja aprovada esta campanha em encontros de estudantes no Estado de São Paulo, no Sintusp (Sindicato dos trabalhadores da Universidade de São Paulo), impulsionando assembléias com os pais nas escolas. No Rio de Janeiro, junto aos companheiros petroleiros, estamos exigindo ã FUP e seu sindicato assembléias para colocar os petroleiros a frente na solidariedade com o povo. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro impulsionamos várias iniciativas junto a diversas correntes independentes.

Lamentavelmente, esta orientação que desenvolvemos junto a companheiros de outras organizações como o PSTU, ENLACE (corrente interna do PSOL) e Coletivo Marxista não têm sido acompanhada por todas na mesma proporção na própria universidade, que dizer na cidade e país. Enquanto em Niterói vários sindicatos emitiram comunicados e chamados ã mobilização, os sindicatos influenciados pela esquerda no resto do Rio e do país seguem na rotina, e partidos como o PSOL e o PSTU, no ritmo de seus congressos eleitorais e lançamento de seus pré-candidatos para as eleições de outubro. Reiteramos nosso chamado ã Conlutas e ã Intersindical, atualmente em processo de unificação para fundar uma nova central, para que se coloquem ã frente e organizem urgentemente uma forte campanha ativa estadual e nacionalmente.

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