FT-CI

Honduras

Nenhuma negociação com os golpistas

12/07/2009 LVO 333

A dez dias do golpe de Estado que derrubou o presidente Zelaya a situação ainda segue indefinida. Tudo indica que o intento frustrado de retorno de Zelaya e a mobilização massiva de 5 de julho contra o golpe foi um ponto de quebra na consolidação do governo golpista de Micheletti, abrindo uma série de variantes políticas que ainda permaneciam indeterminadas.

A fortaleza inicial que de fato possuía o governo, sustentado pelo conjunto das instituições do Estado hondurenho - a Corte Suprema de Justiça, o Congresso e as Forças Armadas -, além dos empresários, da Igreja Católica e dos grandes meios de comunicação, parece ter-se debilitado depois de enfrentar uma semana de crescentes mobilizações populares, que teve como seu ponto mais alto, até o momento, a manifestação de dezenas de milhares de hondurenhos (alguns falam de até 100.000 pessoas), principalmente trabalhadores, camponeses, professores e estudantes, que se mobilizaram até o aeroporto de Toncontín, onde desceria o avião no qual viajava Zelaya, e foram brutalmente reprimidos pela política e o exército. O saldo dessa repressão foi de ao menos dois manifestantes mortos, centenas de feridos e outros tantos detidos.

Possivelmente a ação popular mudou a relação de forças dos primeiros dias, durante os quais os golpistas trataram de naturalizar sua ação tentando demonstrar que contavam com uma base majoritária. A perspectiva de que a mobilização popular contra o golpe cresça e se radicalize, parece ter acelerado a implementação de uma saída negociada, política auspiciada pelos Estados Unidos e a OEA.

Efetivamente, ao fechamento deste artigo concluía a reunião entre Zelaya e a secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton, na qual se acordou abrir uma instância de negociação entre Zelaya e Micheletti, com a mediação do presidente da Costa Rica, Óscar Arias. Segundo Hyllary Clinton, este “é o melhor caminho a seguir, neste momento, mais que tentar retornar frente ã implacável oposição do regime de fato” e que “em lugar de outra confrontação que possa resultar na perda de vidas, tentemos o processo de diálogo e vejamos aonde leva”. Enquanto Zelaya saiu da reunião com declarações triunfalistas, e afirmou que não se trata de uma “negociação”, senão de uma “retirada ordenada dos golpistas” está claro que Zelaya desde o momento do golpe já renunciou a qualquer ação que possa abrir um questionamento ã reacionária Constituição de 1982, apontando seu retorno como a única possibilidade de uma resolução política ã crise sem arriscar desatar uma mobilização que possa sair do controle.

Ainda não se conhecem os termos da negociação nem mesmo se pode prever seu resultado. O que sim parece é que frente ã perspectiva da derrota do golpe a mãos da mobilização popular, a burguesia hondurenha e seu governo golpista, a OEA, Zelaya e o imperialismo decidiram tentar uma resolução política ã crise, preservando ás instituições estatais que deram o golpe de Estado.

O duplo jogo do imperialismo e da OEA

Como é publicamente reconhecido, o governo de Obama (e o embaixador norte-americano em Honduras) estava a par dos planos da burguesia hondurenha de destituir Zelaya. E não podia ser de outra maneira tendo em conta que o imperialismo norte-americano mantém uma base militar permanente no território hondurenho e que compartilha com os golpistas o objetivo de limitar a influência do bloco da ALBA na América Latina. Entretanto, a destituição não terminou ocorrendo por alguma via “legal”, senão por meio de um golpe de Estado clássico, algo que contradiz a imagem que pretende dar o governo de Obama em relação a uma mudança na política imperialista. Isto fez que Obama tivesse que repudiar a ação militar, ainda que nos feitos isso só significou a interrupção de alguns exercícios militares conjuntos com as tropas hondurenhas. Os Estados Unidos atuaram através dos países mais a fins ã política norte-americana na OEA, como o Canadá ou o próprio secretário geral José Insulza, para impulsionar a linha de abrir uma negociação com os golpistas, desalentando o retorno de Zelaya a Honduras sem um acordo com o governo de Micheletti.

Durante sua estadia em Moscou, Obama inclusive chegou a declarar que os “Estados Unidos não pode nem deve buscar impor nenhum sistema de governo a outro país, nem presumir de eleger que partido ou indivíduo deve governar um país” e que os “Estados Unidos apóia a restituição do presidente democraticamente eleito de Honduras, ainda que tenha se oposto ás políticas norte-americanas”. Desta maneira, Obama intenta maquiar a política imperialista que foi e é a ingerência no que considera seu quintal em função de proteger seus interesses estratégicos na região.

Por sua vez a OEA, que saiu a condenar o golpe, não reconheceu o governo de Micheletti e finalmente suspendeu a Honduras do organismo, aplicando o artigo 21 da Carta Democrática, seguindo a orientação do imperialismo norte-americano de impulsionar uma saída pactuada com os que deram o golpe. Ainda que com um discurso duro, a OEA (que com razão é chamada o “ministério das colônias” dos Estados Unidos), deixou correr o golpe, evitou toda medida que levaria a um isolamento categórico do governo golpista, e se pronunciou só por “revisar” as relações de cada país com Honduras. A OEA tirou o aval ao retorno de Zelaya, já que se este era acompanhado por Insulza e outros presidentes e o regime hondurenho não os permitisse a entrada ou intentasse detê-lo, abriria-se uma crise política de proporções, que haveria dificultado enormemente o objetivo de encontrar uma saída negociada.
Redobrar a mobilização para derrotar o golpe

Os trabalhadores, camponeses, estudantes, jovens e os pobres que de fato sofrem a repressão do regime, os ataques do exército e da polícia com seu saldo de mortos, o toque de recolher, o estado de sitio, as perseguições e as detenções, não têm nenhum interesse em encontrar uma saída negociada que não fará mais que dar impunidade aos golpistas para impor suas condições, e dessa forma, garantir o direito a seguir explorando os trabalhadores e o povo hondurenho, que já sofre um dos índices de pobreza mais altos do continente.

O presidente Zelaya, ainda que hoje tenha atritos com o imperialismo e com os capitalistas hondurenhos por ter tomado algumas tíbias medidas que contradizem seus interesses e por ter proposto a possibilidade de uma reforma da Constituição, pertence ã mesma classe e fará tudo o que estiver ao seu alcance para evitar que a luta contra o golpe termine desencadeando uma dinâmica revolucionária que leve os trabalhadores e o povo pobre a enfrentar o conjunto das instituições do Estado burguês. Por isso os operários, camponeses, estudantes e setores populares que estão lutando contra o golpe, não podem depositar nenhuma confiança política em Zelaya ou em uma saída negociada que terminará sendo uma das vias para preservar as instituições e os políticos que perpetraram o golpe.

O caminho para derrotar aos golpistas é redobrar a mobilização independente, fortalecer a greve geral e organizar a autodefesa frente aos ataques das forças repressivas (algo que Zelaya se encarregou explicitamente de desalentar) para impor o juízo e castigo aos golpistas e seus cúmplices e a liberdade de todos os detidos. O conjunto das instituições do Estado está comprometido com o golpe e com a preservação da reacionária Constituição de 1982, redatada pelos partidos da burguesia em acordo com o imperialismo. A única saída progressiva para as massas hondurenhas é a realização de uma Assembléia Constituinte Revolucionária, convocada sobre a base da queda revolucionária do regime, por um governo provisório das organizações operárias e camponesas, na perspectiva da luta por um governo operário e popular baseado em organismos de autodeterminação das massas.

É necessário organizar a mais ampla mobilização dos trabalhadores, camponeses, estudantes, organizações de direitos humanos, e todas as forças que se reclamam antiimperialistas e democráticas em toda a América Latina, em solidariedade com o povo hondurenho, pela derrotada do golpe e contra toda negociação com os golpistas, já que só a mais contundente resposta de massas não só é o que pode esmagar o golpe em Honduras, mas também desalentar eventualmente outros intentos similares na região.

Notas relacionadas

No hay comentarios a esta nota

Jornais

  • PTS (Argentina)

  • Actualidad Nacional

    MTS (México)

  • EDITORIAL

    LTS (Venezuela)

  • DOSSIER : Leur démocratie et la nôtre

    CCR NPA (Francia)

  • ContraCorriente Nro42 Suplemento Especial

    Clase contra Clase (Estado Español)

  • Movimento Operário

    MRT (Brasil)

  • LOR-CI (Bolivia) Bolivia Liga Obrera Revolucionaria - Cuarta Internacional Palabra Obrera Abril-Mayo Año 2014 

Ante la entrega de nuestros sindicatos al gobierno

1° de Mayo

Reagrupar y defender la independencia política de los trabajadores Abril-Mayo de 2014 Por derecha y por izquierda

La proimperialista Ley Minera del MAS en la picota

    LOR-CI (Bolivia)

  • PTR (Chile) chile Partido de Trabajadores Revolucionarios Clase contra Clase 

En las recientes elecciones presidenciales, Bachelet alcanzó el 47% de los votos, y Matthei el 25%: deberán pasar a segunda vuelta. La participación electoral fue de solo el 50%. La votación de Bachelet, representa apenas el 22% del total de votantes. 

¿Pero se podrá avanzar en las reformas (cosméticas) anunciadas en su programa? Y en caso de poder hacerlo, ¿serán tales como se esperan en “la calle”? Editorial El Gobierno, el Parlamento y la calle

    PTR (Chile)

  • RIO (Alemania) RIO (Alemania) Revolutionäre Internationalistische Organisation Klasse gegen Klasse 

Nieder mit der EU des Kapitals!

Die Europäische Union präsentiert sich als Vereinigung Europas. Doch diese imperialistische Allianz hilft dem deutschen Kapital, andere Teile Europas und der Welt zu unterwerfen. MarxistInnen kämpfen für die Vereinigten Sozialistischen Staaten von Europa! 

Widerstand im Spanischen Staat 

Am 15. Mai 2011 begannen Jugendliche im Spanischen Staat, öffentliche Plätze zu besetzen. Drei Jahre später, am 22. März 2014, demonstrierten Hunderttausende in Madrid. Was hat sich in diesen drei Jahren verändert? Editorial Nieder mit der EU des Kapitals!

    RIO (Alemania)

  • Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica) Costa Rica LRS En Clave Revolucionaria Noviembre Año 2013 N° 25 

Los cuatro años de gobierno de Laura Chinchilla han estado marcados por la retórica “nacionalista” en relación a Nicaragua: en la primera parte de su mandato prácticamente todo su “plan de gobierno” se centró en la “defensa” de la llamada Isla Calero, para posteriormente, en la etapa final de su administración, centrar su discurso en la “defensa” del conjunto de la provincia de Guanacaste que reclama el gobierno de Daniel Ortega como propia. Solo los abundantes escándalos de corrupción, relacionados con la Autopista San José-Caldera, los casos de ministros que no pagaban impuestos, así como el robo a mansalva durante los trabajos de construcción de la Trocha Fronteriza 1856 le pusieron límite a la retórica del equipo de gobierno, que claramente apostó a rivalizar con el vecino país del norte para encubrir sus negocios al amparo del Estado. martes, 19 de noviembre de 2013 Chovinismo y militarismo en Costa Rica bajo el paraguas del conflicto fronterizo con Nicaragua

    Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica)

  • Grupo de la FT-CI (Uruguay) Uruguay Grupo de la FT-CI Estrategia Revolucionaria 

El año que termina estuvo signado por la mayor conflictividad laboral en más de 15 años. Si bien finalmente la mayoría de los grupos en la negociación salarial parecen llegar a un acuerdo (aún falta cerrar metalúrgicos y otros menos importantes), los mismos son un buen final para el gobierno, ya que, gracias a sus maniobras (y las de la burocracia sindical) pudieron encausar la discusión dentro de los marcos del tope salarial estipulado por el Poder Ejecutivo, utilizando la movilización controlada en los marcos salariales como factor de presión ante las patronales más duras que pujaban por el “0%” de aumento. Entre la lucha de clases, la represión, y las discusiones de los de arriba Construyamos una alternativa revolucionaria para los trabajadores y la juventud

    Grupo de la FT-CI (Uruguay)