FT-CI

1° de mayo | Brasil

Acto clasista e internacionalista

05/05/2010

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Mais de 200 trabalhadores e estudantes marcharam no ato da LER-QI

Neste 1° de maio a LER-QI, ao lado do Movimento A Plenos Pulmões, do Pão e Rosas e do Movimento Classe contra Classe, organizou um ato classista e internacionalista reunindo trabalhadores e estudantes de diversas categorias, universidades e escolas. Um 1° de maio que primou pela independência política da classe trabalhadora, sem a participação dos seus patrões e de seus governos. Um ato para gritar: fora a burocracia sindical!, recuperando os sindicatos como ferramentas para a luta de classes e elegendo novos dirigentes combativos nas fábricas, empresas e escolas. Gritamos pela retirada das tropas brasileiras, da ONU e dos EUA do Haiti, e em defesa do povo cubano contra a nova ofensiva imperialista e para que defendam o que resta das conquistas da Revolução Cubana, ameaçadas pelo avanço das medidas restauracionistas da burocracia castrista. Tudo isso porque enxergamos o 1° de maio como continuidade da luta classista que travamos dia a dia, e no nosso ato quem teve a palavra foram os trabalhadores em luta: os professores que enfrentaram uma greve de 1 mês contra o governo Serra e agora os trabalhadores da USP que entram em cena mais uma vez na defesa da universidade pública e gratuita, exigindo o aumento salarial e lutando em defesa de seu sindicato. Também teve destaque a participação dos estudantes combativos e pró-operários da UNESP, Unicamp, Fundação Santo André, da PUC-SP e outras universidades e colégios.

Há bastante tempo as duas principais centrais sindicais do país, a CUT e a Força Sindical, não organizam atos de 1° de maio ligados à luta dos trabalhadores e sim grandes festas com distribuição de prêmios e com a presença de celebridades. Neste ano, todos os atos organizados por estas centrais sindicais serviram de palanque para a candidatura de Dilma Roussef, ao lado do presidente Lula. Nosso ato, ao contrário, pronunciou-se resolutamente pela necessidade de lutar contra burocracia sindical, grande freio em nosso país para que a classe trabalhadora restaure a confiança em suas próprias forças e transcenda as ilusões no governo Lula, pela necessidade urgente de romper a divisão das fileiras operárias entre efetivos e terceirizados, divisão aceita também por muitos sindicatos que se colocam como combativos, clamando também por igual trabalho e igual salário, e a necessidade de responder ã imensa miséria e sofrimento das populações que tudo perderam nas enchentes, reivindicando um plano de obras públicas. Um ato de 1° de maio que lutou pela independência política dos trabalhadores dos patrões, seus governos e seus partidos.

A convocatória assinada por toda a esquerda já expressava o abandono de alguns princípios elementares do classismo, já que o ato impulsionado pelo PSTU, PCB, PSOL e pela Conlutas, Intersindical, Pastoral Operária e diversos outros setores ligados não somente ã Igreja como ã Arquidiocese de São Paulo – representante máxima do Vaticano no Brasil – expressou o caráter eleitoralista de apresentação dos candidatos da esquerda, por fora das necessidades reais da classe trabalhadora. E, pior ainda, como dissemos em nosso jornal, não é possível que a esquerda organize um ato em conjunto com a Igreja num momento em que a mesma se encontra questionada por milhares de denúncias de abusos sexuais de menores. Esse acordo só é possível ser mantido se a denúncia deste escândalo aberrante ficar de fora do ato, como ocorreu na Praça da Sé. Ao mesmo tempo, nem os professores da rede estadual, tampouco os novos setores de trabalhadores que começam a entrar em greve tiveram protagonismo neste ato, como corresponderia num ato organizado pela esquerda. Ao contrário, houve muito mais espaço para apresentações culturais e artísticas - num cenário ao estilo da CUT -, do que para intervenções políticas de trabalhadores e trabalhadoras que pudessem contribuir para forjar uma tradição combativa, neste 1° de maio, e para dar passos adiante na coordenação das lutas.

No ato classista e internacionalista, quem primeiro tomou a palavra, foi Brandão, dirigente sindical demitido da USP por perseguição política da Reitoria e do governo do estado, quem colocou a importância da greve da USP, que se iniciará no dia 5 de maio, como um campo de combate contra a perseguição política e ataques econômicos perpetrados contra os trabalhadores, relembrando o importante papel que a LER-QI cumpriu durante a greve de 57 dias em 2009, que se enfrentou com a Reitoria e com o governo Serra que militarizou o campus universitário, ressaltando também a necessidade de coordenar as lutas que estão em curso, como a greve da Sabesp e do Judiciário. Em seguida, tomou a palavra Mara Onijá, dirigente da LER-QI e do grupo de mulheres Pão e Rosas que fez uma saudação ás mulheres trabalhadoras presentes no ato, como as sapateiras de Franca, as trabalhadoras da USP em greve, as trabalhadoras do Judiciário em greve, trabalhadoras terceirizadas e do metrô. Também ressaltou a importância da denúncia ã Igreja Católica, uma instituição burguesa que vem permitindo uma série de escândalos sexuais envolvendo padres, bispos e crianças, em nome de manter limpa sua imagem. Entretanto, a esquerda combativa e classista necessita lutar pela punição de todos os responsáveis por estes crimes e demonstrar a falência desta instituição reacionária que mantém sua riqueza ás custas da fé de milhões de trabalhadores e trabalhadoras no mundo todo.

Após as primeiras falas, o ato saiu em marcha até a Praça da Sé, onde cantou palavras de ordem como “Trabalhar todos, trabalhar menos. Repartir as horas pelo fim do desemprego”,“Eu luto no 1° de maio, pra mim não é festa não! Eu luto contra o desemprego e contra a precarização!” e “Somos as negras do Haiti, contra as tropas de Lula estamos aqui!”. Quando o ato passou por um dos portões da Catedral da Sé, onde encontravam diversos padres vestidos com seus trajes comemorativos, os manifestantes do bloco da LER-QI começaram a cantar palavras de ordem contra os escândalos de pedofilia como “Basta de abuso, mentira e sermão! Hipócrita Igreja, quer lavar as mãos! Basta de ataques e perseguição! Os padres culpados, tem que ter punição!”. Os padres deram a única resposta que podem dar: fecharam as portas da Catedral para não ouvirem os protestos contra os crimes que cometem.

O ato marchou até a frente da Faculdade de Direito, onde os manifestantes tomaram a palavra. Pablito, dirigente da LER-QI e representante dos trabalhadores no Conselho Universitário da USP saudou todos os trabalhadores e estudantes presentes no ato e disse: “Vamos aproveitar para dizer aos trabalhadores, neste momento companheiros, é necessário fazer um balanço de que nos 8 anos do governo Lula a verdadeira situação da classe trabalhadora não melhorou. Apesar do discurso de Lula e Dilma dizendo que é um governo nacional e popular, o que nós vimos nos últimos anos, companheiros, é o avançar da precarização e da rotatividade dos empregos, avançar também nos lucros das multinacionais e dos banqueiros. Por conta disto, nos sentimos bastante orgulhosos de ter em nosso ato companheiros independentes trabalhadores e estudantes de vários locais que não se impactam pelo peso dos aparatos e das bandeiras, mas consideram que é necessário apesar de fazermos um ato menor do que o da Praça da Sé, continuar levantando as corretas bandeiras do classismo e da independência de classe, e fazendo dia a dia a luta do socialismo, não somente na propaganda ou nas palavras ao vento, mas concretizando também as nossas lutas”. Pablito também aproveitou para apresentar a necessidade dos trabalhadores construírem sua verdadeira ferramenta, que é um partido revolucionário de toda a classe trabalhadora. “Os trabalhadores precisam colocar de pé uma ferramenta política independente dos patrões, expulsar a burocracia dos sindicatos, ajudar a unificar as fileiras de nossa classe, com os companheiros terceirizados que nos orgulhamos que estejam hoje aqui. O proletariado brasileiro já demonstrou em vários momentos de sua história na década de 1970, na década de 1930, e na década de 1960 contra a ditadura, que para poder triunfar temos que discutir com os trabalhadores a necessidade de uma ferramenta política, não com a estratégia do PT de conciliação de classes, mas desta vez com uma estratégia revolucionária, com um programa de independência de classe que possa colocar a burguesia contra a parede e derrotar definitivamente este sistema tão miserável que é o capitalismo”.

Após Pablito, tomaram a palavra Cícero, militante da LER-QI e trabalhador da Sabesp, colocando o informe de sua greve; Sheila, militante da LER-QI e trabalhadora do Judiciário em greve, que fez uma saudação ás mulheres trabalhadoras e Márcio, professor da rede estadual. Também falaram trabalhadores do metrô, uma companheira operária do setor de calçados de Franca, uma estudante da Fundação Santo André que relatou a luta dos estudantes em defesa dos trabalhadores terceirizados da cantina, e Daniel, estudante da UNESP Marília e militante da LER-QI. Entre as intervenções estudantis, Leandro Che, militante da LER-QI e membro da chapa Palmares do Centro Acadêmico de História da UNESP de Franca saudou o ato dizendo “A questão das universidades, várias questões e demandas não foram resolvidas. Continuam uma série de ataques, como o PDI, Univesp, a permanência estudantil, a questão da repressão e temos que dar uma resposta. Para mim esta semana os trabalhadores da USP deram um importante passo, para que consigamos unificar uma mobilização e uma greve a nível estadual e, nessa perspectiva colocar que nós em Franca, do Movimento A Plenos Pulmões da chapa Palmares vamos construir uma mobilização a nível estadual e colocar de novo o movimento estudantil no cenário político, aportando para a construção de um movimento estudantil nacional. Um movimento estudantil que consiga aliar-se aos trabalhadores e consiga discutir que a universidade é um espaço público que é necessário transformar este espaço elitista e racista que hoje serve para uma meia dúzia de estudantes. É preciso lutar pelo fim do vestibular, estatização das universidades privas para que assim consigam incorporar os jovens que estão fora das universidades. Queremos colocar também que os estudantes de Franca estarão na reunião da ANEL, na perspectiva de transformar a ANEL de fato numa coordenação de luta, e num pólo de luta entre estudante e trabalhadores que querem transformar a educação e a sociedade de classe”. Em seguida, todos os presentes gritaram “Aliança revolucionária, é da juventude com a classe operária!”.

O trabalhador da Unicamp, Mario, que participou das greves dos anos 1970-80, e da fundação do PT, resgatou o processo do surgimento das oposições sindicais naquele período e a formação do PT, depois canalizada para a via eleitoral. “Eu, como muitos outros que vivemos este período sofremos muita desilusão com o papel do PT. Porém, se hoje estou ao lado da LER-QI é por que vi dia-a-dia que é uma organização que luta pela independência de classe”.

O ato foi encerrado com a fala de Simone Ishibashi, dirigente da LER-QI que ressaltou que a crise capitalista está longe de acabar, como se vê em diversos países europeus, que no primeiro de maio será palco da manifestação de trabalhadores e da juventude que vem sentindo na pele as misérias deste sistema, como se vê na Grécia. Saudou a irrupção em cena do sindicalismo de base na Argentina, que demonstra que é possível combater a burocracia sindical, e a luta dos trabalhadores mexicanos contra a privatização da empresa Luz y Fuerza, processos que como membros da FT tivemos o orgulho de participar ativamente, e denunciou a política de assassinato dos trabalhadores em luta por capangas patronais na Venezuela de Chávez. Em seguida colocou: “Mas os trabalhadores também devem tomar para si bandeiras políticas, como a defesa urgente das conquistas da revolução cubana de 1959. Deixar de dar este combate, como faz a LIT é entregar uma trincheira avançada dos trabalhadores latino-americanos ao imperialismo e ã burguesia. Esta defesa não pode tampouco ficar nas mãos dos stalinistas ou dos populistas, que igualam a defesa das conquistas da revolução com a defesa da burocracia, que como casta governante impede a auto-organização dos trabalhadores. É preciso lutar pelo fim do embargo dos EUA ã Cuba, liberdade para os partidos que defendem a revolução e pelo fim dos privilégios da burocracia castrista”. Sobre a tão festejada política internacional de Lula, colocou: “Enquanto Lula fala de autonomia fecha acordos de cooperação militar com o imperialismo dos EUA. E segue oprimindo e assassinando a população haitiana. É preciso redobrar a campanha pela retirada das tropas de Lula do Haiti, e das tropas dos EUA. Precisamos seguir a campanha que iniciamos”. Encerrou sua fala colocando que para que os trabalhadores possam partir destas tarefas e avançar em responder estrategicamente aos ataques da burguesia e do imperialismo é necessário defender a reconstrução da IV Internacional, partido mundial da revolução. O ato foi encerrado com os manifestantes cantando a Internacional.

1° DE MAIO NO RIO DE JANEIRO

Importante ato no Bumba tem que ser o primeiro passo de uma ativa campanha de solidariedade!

O ato de primeiro de maio unitário da esquerda e de diversas as associações de moradores do Rio de Janeiro foi realizado em Niterói em duas comunidades fortemente atingidas pelos deslizamentos de semanas atrás. Enquanto isto a CUT, CTB e Força Sindical organizavam caras festas como se nenhuma tragédia houvesse ocorrido. Com as encostas ainda descampadas no Morro do Céu, as casas destruídas e com corpos ainda desaparecidos no Bumba o ato unitário da esquerda contou com a participação de moradores de várias comunidades atingidas, sobretudo do Bumba. A manifestação que reuniu algumas centenas de pessoas também expressava um ódio ao descaso dos governos, antes de mais nada, ao prefeito de Niterói, frente ã pobreza cotidiana destes trabalhadores e a miséria ocasionada pelo desastre.

Esta importante iniciativa de realizar o tradicional ato da classe trabalhadora neste local foi uma surpresa positiva aos moradores que recepcionavam bem os manifestantes de suas próprias comunidades bem como os diversos militantes da esquerda, sobretudo PSOL e PSTU, alguns sindicatos e movimentos populares (como o MST, MTD, MNLM e FIST).

Este passo importante dado sob a direção do “Comitê de Mobilização e Solidariedade das Comunidades e Favelas de Niterói”, da Plenária de Movimentos Sociais e pela CONLUTAS não contribuiu, no entanto a responder uma justa pergunta que alguns moradores mais críticos faziam: “mas e amanhã vocês voltarão?” As falas no carro de som culpavam claramente o capitalismo e o prefeito de Niterói, e ocasionalmente também o governador Cabral e Lula, mas em sua maioria tinham um fim marcado naquele dia e um segundo tempo eleitoral em Outubro.

A situação dos trabalhadores e do povo em Niterói, São Gonçalo, no Rio de Janeiro exige muito mais da esquerda, transformar a atuação nos sindicatos e nos centros acadêmicos e DCEs para que sejam ativos impulsionadores desta solidariedade, de realizar uma forte denúncia dos governos Lula, Cabral, Paes, Jorge Roberto que destinam nem sequer 1% das verbas aos atingidos pelos deslizamentos e enchentes ao que destinam aos empresários e banqueiros na crise ou ás faraônicas obras para a Copa do Mundo e Olimpíadas. Na mesma Niterói onde só foram gastos R$ 50 mil com contenção de encostas está sendo construída uma “Torre Panorâmica” ao custo de R$ 19 milhões. Toda a demagogia feita com os royalties por cada governador e prefeito fluminense é desfeita em lama e lixo soterrando o povo.

A nascente organização e coordenação de diversas comunidades tem que ser apoiada pela esquerda superando o regionalismo de impulsionar mais ativamente esta campanha somente em Niterói e não no restante do estado, e desta forma apresentar um programa que contribua para fazer com que o movimento existente supere a fragmentação das demandas locais e somente uma pressão sobre os parlamentares. É possível organizar uma resposta operária e popular frente a esta calamidade, se opondo a repressão que tem sido desatada sobre diversas comunidades que instaura no Rio de Janeiro as lições apreendidas com a ocupação brasileira do Haiti. Para dar passos neste sentido é necessário apresentar mais do que os candidatos e figuras conhecidas, mas fazer um ativa campanha nos locais de trabalho, estudo e moradia. Chamamos o PSTU e as correntes internas do PSOL que tem se posicionado neste sentido a fazerem concretas suas declarações, partindo dos sindicatos e entidades estudantis que dirigem.

Nós da Liga Estratégia Revolucionária, junto as companheiras do grupo de mulheres Pão e Rosas e do Movimento A Plenos Pulmões, estivemos em marcha junto aos estudantes do CACS da UFRJ levantando o programa aprovado pelos estudantes de Ciências Sociais desta universidade: “Contra a remoção e repressão! Por um Plano de Obras Públicas controlado pelos sindicatos e associações de moradores! Contra a divisão dos trabalhadores: pela unidade de efetivos e terceirizados!”.

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