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A propósito do ascenso da FIT na Argentina: um debate com a ideia de “partidos amplos”

14/08/2015

A propósito do ascenso da FIT na Argentina: um debate com a ideia de “partidos amplos”

Se mantém a “despolarização”

Desde o ponto de vista da eleição nacional, Daniel Scioli, candidato do kirchnerismo, alcançou 38,5% dos votos com Macri próximo que conseguiu 30%. O terceiro lugar foi para Sergio Massa com 20% dos votos. O problema que enfrenta Daniel Scioli frente ã outubro – quando acontecem as eleições gerais para presidente –, é que a vitória nas PASO não é suficiente para lhe assegurar a vitória no primeiro turno.

Isto é assim porque os candidatos do governo e da direita, pra além da demagogia, vêm dizendo basicamente o mesmo: continuidade e “aprofundamento” ou “mudanças menores” no modelo do governo que durante anos encabeçaram os Kirchner. A boa fase econômica acabou, e ainda que não se atrevam a dizer isso em campanha, os três são candidatos do ajuste e da desvalorização do próximo período. Ou seja, descarregarão a crise sobre as costas dos trabalhadores.

Além disso, pesa sobre o candidato oficial Daniel Scioli que, para os setores que dentro do governismo e sua base social se colocam ã esquerda, é um “homem dos anos noventa”, ou seja, um político do neoliberalismo e das privatizações.

O problema de fundo do kirchnerismo é o “fim de ciclo” dos chamados governos “progressistas” que conseguiram amortecer a crise econômica no passado mas hoje estão sendo arrastados pela dinâmica internacional, configurando um cenário onde – pra além dos ritmos –, tenham que tirar com a mão direita o que concederam com a esquerda.

O ascenso eleitoral da FIT à luz das experiências do Podemos e do Syriza

Por sua vez, a esquerda se apresentou ás PASO para resolver a competição entre duas listas encabeçadas por Nicolás Del Caño e Jorge Altamira, respectivamente.

A Frente de Esquerda cresceu mais de 40% desde sua fundação em 2011 nesta eleição, ficando a muito poucos décimos da candidata da centro-esquerda, Margarita Stolbizer. Nicolás del Caño se impôs contra Jorge Altamira com a lista “Renovar e fortalecer a Frente”, contradizendo os prognósticos de uma boa parte dos analistas políticos e da imprensa na Argentina, fundamentalmente porque expressa o novo na FIT.

O insólito do fortalecimento eleitoral da FIT é que se trata de um reagrupamento que manteve a independência política dos trabalhadores frente aos partidos patronais, a contracorrente de experiências como a do Podemos e do Syriza que, desde sua fundação, colocaram-se a confluência com setores do reformismo e da burguesia e levantaram um programa limitadamente anti-ajuste.

A bancarrota de ditos projetos é encarnada pelo Syriza que, na contramão da vontade popular expressa através do “Não” no último referendo, aceitou as ordens da Troika que aprofundam as penúrias dos trabalhadores e do povo grego.

Porque o PTS ganhou a interna da FIT?

A campanha das PASO no interior da FIT, expressou ao mesmo tempo dois projetos partidários diferentes entre as forças mais importantes que compõem a frente, o PTS e o PO.

A fórmula encabeçada por Nicolás Del Caño e Myriam Bregman, baseou-se na intensa militância desenvolvida não só pela militância do PTS, senão que por uma nova camada de trabalhadores que saíram das fábricas para convencer seus vizinhos, familiares e amigos a votar pela lista 1A.

Trata-se de centenas de ativistas que vêm de duras lutas – as mais importantes da história recente na Argentina – contra as demissões, os lockouts patronais, os golpes no salário e várias reivindicações mais pelas quais lutou tenazmente a vanguarda operária. A lista 1A, integrou os já amplamente reconhecidos trabalhadores “indomáveis da Lear”; várias dezenas dos trabalhadores da Madygraf sob controle operário (antes Donnelley), companheiros e companheiras da Kraft, trabalhadores da ex-Zanón e de muitas fábricas mais.

Daí que as listas agrupadas sob o lema “Renovar e fortalecer a Frente”, organizaram 1500 candidatos dos quais uma importante porcentagem são operários industriais, uma grande quantidade jovens precários, 300 professores, ativistas de direitos humanos e 60% de mulheres. Mais ainda, centenas e centenas de companheiros se somaram ã campanha como fiscais, muitos deles provenientes do coração industrial da Argentina localizado na zona norte de Buenos Aires.

Renovar e fortalecer a Frente, significou não só abrir passagem ã juventude, senão que ã vanguarda operária e juvenil, para que se expressasse politicamente por meio de uma campanha viva e expansiva que “fincou” em setores do movimento operário a ideia de que é necessário contar com políticos da classe operária como Nicolás del Caño, Rubén Matu, Claudio Dellacarbonara, Raúl Godoy, Alejandro Vilca e Javier Hermosilla, verdadeiros tribunos dos trabalhadores e do povo que defendam seus interesses na rua, nas câmaras e que ganhem como uma professora.

O Partido Operário (PO) por sua vez sofreu uma importante derrota. Não foi consequente com o lema de sua campanha, “Unidade”, porque recusou todas as propostas unitárias feitas pelo PTS antes de ir ás PASO. E além disso foi derrotada a política do PO da “unidade da esquerda” em si mesma, que considera que ampliar a FIT é fazer acordos eleitorais com correntes que historicamente têm diferenças com o programa socialista e que apoiam em muitos casos, os governos progressistas como o de Evo Morales na Bolívia, dos quais se delimita a FIT.

Se bem o PTS saudou a intenção de organizações como a de “Perro” Santillán ou “Pueblo en Marcha” de apoiar a FIT eleitoralmente, ao mesmo tempo disse que uma eventual integração necessitaria “iniciar uma prática comum e um debate profundo e sério sobre o programa da frente”. Que não bastava um juramento pelos “princípios socialistas”. Consideramos que a ideia de que – para ganhar eleitoralmente – se deve fazer acordos oportunistas com correntes que historicamente não defendam a independência de classe e que o contrário é sectário porque fica na marginalidade, se mostrou errada com o crescimento nas últimas PASO.
No caso da lista encabeçada pelo PTS, a vitória se baseou em ampliar a FIT colocando em movimento o peso específico já conquistado em uma fração da classe operária argentina – outrora reconhecida no sindicalismo de base – e em uma enorme campanha midiática com dezenas de spots para televisão e internet, uma intensa campanha nas redes sociais, de agitação e transmissão de ideias em bairros, escolas, centros de trabalho e estações.

O voto em Nicolás del Caño, que tem um significativo componente operário e precário, expressa uma força social viva que desde anos atrás está formando na Argentina, primeiro por meio do chamado “sindicalismo de base” depois com sua continuidade política atual expressa na campanha militante pela lista 1A.

Dois caminhos diferentes para a esquerda internacional

Ao mesmo tempo, a experiência da FIT em geral e do PTS em particular, contradiz a hipótese de um amplo arco de organizações que se reivindicam trotskistas e que no passado hipotecaram o programa revolucionário para “chegar ás massas” e levantaram projetos de partidos amplos sem delimitação clara de independência de classe.

Frente ã emergência e o fortalecimento de diversas variantes reformistas devido ã crise de representação burguesa que se abriu como correlata da crise econômica internacional, como por exemplo, na Europa, o Syriza e o Podemos foram saudados entusiasticamente por amplos setores da esquerda internacional.

O lugar comum para o entusiasmo suscitado é que estaria desabilitada a possibilidade de que uma alternativa socialista e de independência de classe saia da marginalidade. Esta posição foi acompanhada de um abandono absoluto de uma prática para lutar para que o movimento operário se configure como sujeito, abrace a militância política e construa uma ferramenta política com independência de classe que lhe seja própria.

Daí o apoio de uma das principais correntes do PSOL (o MES) ao Syriza ou a política que levou o trotskismo francês a liquidar a LCR e formar o Novo Partido Anticapitalista.

O triunfo da lista encabeçada pelo PTS nas PASO é uma conquista para a esquerda internacional e a vanguarda operária na medida que expressa, ainda em pequena, mas significativa escala, a correção de uma estratégia para construir partidos revolucionários a nível internacional, orgânicos ã classe operária e com capacidade para influenciar setores cada vez mais amplos do movimento de massas.

A combinação de uma política audaz para se fundir com o mais avançado da classe operária e a juventude – ao calor da intervenção na luta de classes – e no terreno da agitação revolucionária, está demonstrando sua efetividade com o telào de fundo da crise econômica e social que cruza o capitalismo.

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