FT-CI

Declaração da Fração Trotskista - Quarta Internacional

A crise do capitalismo e a perspectiva dos revolucionários

25/12/2008

A crise do capitalismo e a perspectiva dos revolucionários

Em questão de alguns meses a crise financeira que teve início no estouro da bolha imobiliária e creditícia nos EUA, está se transformado na pior crise da economia capitalista desde a quebra de 1929 e a Grande Depressão da década de 1930.

As medidas tomadas pelos estados capitalistas para conter a crise falam por si mesmas. Não é todos os dias que o parlamento norte-americano resolve destinar 700 bilhões de dólares para tentar evitar a quebra do sistema bancário nem os estados europeus comprometem para a mesma finalidade 1,9 trilhões de euros. Mas apesar da magnitude das verbas envolvidas nada indica que será suficiente para conter o descalabro, como prova o recuo que o governo Bush teve que dar com a proposta de adquirir os chamados "ativos tóxicos" (dívidas impagáveis) dos bancos.
As conseqüências políticas desta crise vem se revelando com o amplo triunfo eleitoral de Barack Obama que se transformou no primeiro presidente negro da principal potência imperialista. Enquanto para amplos setores da burguesia imperialista estadunidense Obama é a opção mais favorável para conseguir relegitimar os EUA internacionalmente e conservar o papel de contenção que histórico do Partido Democrata ante uma eventual radicalização da luta de classes, entre os fatores que levaram massivamente a jovens, trabalhadores, negros e outras minorias oprimidas a votar pelo candidato democrata está, sem dúvida, a recessão da economia e o pântano em que se encontram as guerras no Iraque e Afeganistão.

Após as eleições a situação econômica internacional vem continuamente se deteriorando, com o avanço da recessão nos EUA e nos países da "eurozona", além da desaceleração da economia chinesa que provocou novas quedas nas bolsas.

Uma crise de magnitude histórica

A queda vertiginosa das bolsas do mundo todo com a conseqüente desvalorização das ações das principais corporações, já implicam numa grande destruição de capital. Segundo os dados de meados de outubro se evaporou dos mercados de valores internacionais por volta de 27 bilhões de dólares. Assim que a crise começou em julho/agosto de 2007 com a queda do mercado das hipotecas "subprime" nos EUA e o colapso do Lehman Brothers, seguido da quebra da principal seguradora AIG em meados de setembro de 2008 (que levou ã nacionalização desta última) disparou uma espiral de quedas nas bolsas, crises monetárias, encarecimento e escassez de crédito interbancário. Esta escassez de crédito ameaçou paralisar o funcionamento do sistema capitalista e obrigou os governos das principais potências a intervir decisivamente para restaurar pelo menos o crédito interbancário.

Durante o "neoliberalismo" o capitalismo teve várias crises/crack: de Wall Street em 1987; fim da "bolha" imobiliária japonesa em 1990; crise do sistema monetário europeu em 1992; México em 1994; Indonésia e o sudeste asiático em 1997; Rússia em 1998; brusca desvalorização no Brasil em 1999; crise das "pontocom" e recessão nos EUA em 2001; crack da economia argentina no final deste mesmo ano, porém nenhuma teve a magnitude e o alcance da atual crise. A crise que hoje estamos presenciando originou-se no coração do sistema capitalista mundial, os Estados Unidos da América, e se estendeu como uma mancha venenosa para o resto do mundo, golpeando seriamente a União Européia, Japão, Rússia, e os países da periferia capitalista.

O impacto está sendo particularmente sério na "eurozona" e está deixando explícito o que existe por trás do projeto da União Européia e da moeda comum. Hoje, torna-se claro que seguem atuando os interesses de cada um dos estados nacionais que a compõem. Isto explica o quão tortuoso -devido em grande parte pelas ressalvas da Alemanha- foi chegar ao acordo que finalmente alcançaram os principais países da União em meados de outubro, em que cada estado dos 15 que compõem o coração da EU se comprometem a empreender uma ação coordenada ante a crise para tentar não deixar cair nenhum banco. Este acordo não implica em um fundo comum anti-crise, como no início havia reivindicado o presidente francês Sarkozy, porém se limita a que cada país se encarregará de garantir os empréstimos interbancários dentro de suas próprias fronteiras nacionais, porém sem que nenhum governo garanta o dinheiro emprestado aos bancos dos vizinhos.

Esta crise pode colocar em questão o próprio projeto da União Européia, e já tem sido um golpe para os que sustentavam que seria possível avançar de forma harmoniosa a uma maior integração do "velho continente". Isto para os marxistas não é uma surpresa: o capitalismo é um sistema baseado na concorrência. No plano internacional as potencias imperialistas competem e defendem os interesses de suas próprias corporações, o que se exacerba em momentos de crise como o que estamos vivendo. Daí, se por um lado há pressões para que sejam tomadas medidas defensivas comuns da UE frente ás outras grandes potências, por outro lado, cada estado enfrenta problemas particulares cuja tentativa de solução choca-se com as necessidades de seus vizinhos. Portanto os capitais mais poderosos em escala européia não enxergam com maus olhos o naufrágio de seus competidores mais débeis.

Junto ã crise do mercado imobiliário em vários países e as quedas dos grandes bancos de investimento e das bolsas se seguiu uma série de crises monetárias que estão infectando principalmente os países denominados "emergentes" , categoria vaga que se refere aos países atrasados e semicoloniais, em que se expressa a desvalorização das moedas locais em relação ao dólar, e vem levando a uma forte revalorização do iene obrigando ao governo japonês a intervir para frear a tendência ascendente de sua moeda.

A estes se somam os países do leste europeu que haviam sido rotulados como modelos bem sucedidos da restauração capitalista, como Hungria, que demonstrou a debilidade de sua economia exposta ã crise internacional. Ucrânia também solicitou financiamento do FMI que vem disponibilizando um fundo especial de assistência a países em crise, em troca de programas de ajuste econômico. Sem dúvidas o FMI não tem dinheiro suficiente para intervir como fazia na década de 90, já que os EUA tem cortado o financiamento desta instituição e os anúncios de distintos países de pôr novos fundos a sua disposição (como Japão que prometeu 100 bilhões de dólares) são completamente insuficientes frente ã dimensão do naufrágio. Pressionadas pela crise, a cúpula do chamado "G 20", realizada em Washington em meados de novembro, levantou a "necessidade de reformar o FMI e o Banco Mundial", e a estabelecer novos controles sobre os bancos e o sistema financeiro internacional, mas até agora as alterações anunciadas não vão além de um recital de intenções aceitas de má vontade por parte dos Estados Unidos.

Com o desenvolvimento da crise também está caindo o mito de que a economia chinesa e outras economias importantes da periferia capitalista pudessem "desligar-se" da crise.

O crescimento sustentado da China durante 20 anos levou muitos analistas, tanto burgueses como dentro da esquerda, a considerar que este país poderia atuar como um motor da economia internacional em substituição dos EUA. Porém os números revelam que a China segue sendo um país economicamente dependente e que não tem capacidade de atuar como uma grande potência: ocupa a posição número 100 em termos de renda per capta e representa apenas 6% da economia global. Ajustando sua produção ã paridade de poder aquisitivo, sua economia só equivale a 10% da economia mundial. Com 1,3 bilhões de habitantes consumiu em 2007 por volta de 1,2 bolhões de dólares, enquanto os EUA com uma população de 300 milhões de habitantes, consumiu no mesmo período, um total de 9,7 bilhões. Já a produtividade do trabalho da economia chinesa é muito inferior ã estadunidense, ã japonesa ou a das principais economias européias. Como ocorre com todo o mundo, China já está sendo golpeada pela crise, sua economia está se desacelerando e a bolsa de Xangai já perdeu em 60% de seu valor.

Frente esta situação, o governo chinês anunciou um plano de investimentos públicos de 588 bilhões de dólares nos próximos anos, destinados a projetos de infra-estrutura, redução de impostos, aliviar requisitos para empréstimos bancários e dispor para ajuda social e de desempregados. Porém este plano, como o resto dos resgates dispostos por outros países não poderá evitar a desaceleração econômica.

A China, que destina altas porcentagens de sua produção ao mercado estadunidense, enfrenta a possibilidade de uma crise de superprodução. Segundo alguns informes periódicos, estão fechando milhares de fábricas cujos donos fogem deixando salários e dívidas sem pagamento. Esta situação está começando a dar lugar a um crescente número de protestos operários que se somam aos dos camponeses e outros setores sociais. Isto significa que a crise econômica pode se transformar em uma crise política do regime e leve o ressurgir da luta de classes na maior concentração proletária do mundo.

No caso da América Latina, seus governos alimentavam inicialmente a idéia de que se salvariam da crise devido a aparente "solidez" das reservas dos Bancos Centrais.
Porém o crash das bolsas regionais, a fuga de capitais e a desvalorização das moedas locais rapidamente deixaram sem sustentação estes argumentos.

O Brasil, que vinha sendo a "economia estrela" da região e teria alta qualificação creditícia por parte das agências imperialistas, foi um dos mais golpeados, deixando em evidência sua dependência ao capital financeiro internacional. Pelo seu peso na economia regional e no Mercosul, a desvalorização de sua moeda e eventualmente a redução do consumo interno, terá enormes repercussões nas economias do restante dos países da região e está provocando certa divisão no governo sobre como responder ã crise.

O final do ciclo de crescimento que viveu a América Latina nos últimos cinco anos já é um fato, como mostram a caída sustentada dos preços das matérias primas -principalmente petróleo e a soja-, no encarecimento do crédito, a fuga de capitais, os planos de corte da produção em ramos industriais, entre outros elementos, mas ainda não se pode dizer com precisão quais que serão as conseqüências concretas da crise internacional na região. Agora já é claro que nenhum país será capaz de se manter fora dos efeitos desta crise, que se tornou verdadeiramente global.

Neste cenário, propostas como a dos intelectuais agrupados na "Declaração de Caracas" que planejam o fortalecimento da ALBA e o Banco do Sul, novas instituições econômicas reguladas e um acordo monetário latino-americano para fazer frente ã crise, resultam em completa utopia. Estes projetos que não puderam sequer ser colocados de pé no período anterior de crescimento econômico, frente os sintomas da crise na região caem diretamente sem nenhum fundamento sólido. Mais do que avançar em um projeto coordenado, os distintos países já estão dando mostras de defender os negócios de suas próprias burguesias, onde o exemplo mais brutal quem deu foi o Brasil na defesa dos interesses da Odebrecht e Petrobrás durante as negociações com Equador ou a aberta defesa da patronal exportadora de soja brasileira que é a principal detentora de terras no Paraguai e incluindo uma série de exercícios militares do exército brasileiro na fronteira com este país na resposta ao caso de Itaipu para deixar claro ao recém empossado Lugo que não vai permitir que se toque em seus interesses.

Os limites da intervenção estatal

Ante a uma perspectiva de colapso geral de todo o sistema financeiro, que rondou perigosamente a realidade por volta do final de setembro, e o fracasso das políticas tradicionais do FED estadunidense, os governos dos países capitalistas avançados votaram a utilização de somas bilhonárias de dinheiro público, para evitar o colapso do sistema financeiro e bancário.

Nos EUA, após uma primeira votação negativa devido ao rechaço da maioria do Partido Republicano ao plano de seu próprio governo encabeçado pelo secretário do tesouro Henry Paulson, o Congresso aprovou o pacote de resgate de 700 bilhões de dólares. O plano original de Paulson, um texto de apenas duas páginas, se limitava a sanear com dinheiro público os títulos podres, ou "ativos tóxicos" contaminados com os créditos hipotecários impagáveis, do balanço dos principais bancos de investimento. Este projeto sofreu modificações importantes e o texto aprovado no Congresso se ampliou a mais de 450 páginas. Como parte deste plano Paulson apresentou aos diretores dos nove principais bancos do país, um plano baseado na aquisição por parte do Estado de ações preferenciais dos bancos em troca da injeção inicial de 250 bilhões de dólares de fundos públicos. Em 12 e novembro o plano teve uma nova mudança, com o anuncio de Paulson de deixar sem efeito a proposta de aquisição estatal dos ativos tóxicos impagáveis dos bancos.

O governo de Bush lançou inicialmente seu plano depois que as potências européias, seguindo o exemplo britânico, resolveram um amplo plano de assistência para seus bancos em apuros: Alemanha, 460 bilhões de euros; França, 360 bilhões; Holanda, 200 bilhões, Espanha e Áustria 100 bilhões, que junto ao anunciado pela Grã Bretanha somam 1,9 trilhões de dólares.

A utilização dos fundos estatais para salvar o capitalismo em momentos de crise de nenhuma maneira implica uma "medida socialista", como ironizaram alguns partidários assíduos do livre-mercado, mas que confirma sensivelmente que os governos capitalistas defendem os interesses das classes pelo qual em seu nome governam. O plano de Paulson e o de seus colegas europeus, nem sequer constituem uma "nacionalizaçã o" dos bancos ao velho modo dos governos burgueses do segundo pós-guerra. O governo Bush se encarregou de deixar claro que será um "investido passivo", ou seja, não ocupará nenhum cargo na diretoria dos bancos, nem receberá os dividendos que lhe pertencem em caso de recuperação dos mesmos.

Este investimento massivo de capital tem se transformado na principal intervenção estatal na economia desde a crise dos anos 30. A conseqüência lógica será o aumento das dívidas dos estados, uma apropriação dos impostos públicos e uma hipoteca gigantesca sobre as gerações futuras.

No caso dos EUA o pacote de resgate aumentara astronomicamente a dívida estatal. Alguns anunciam que seu déficit poderá chegar a 10% de seu PIB, o que deixaria ao Estado norte-americano ã beira do default.

Estas centenas de bilhões de dólares, por mais que tenham contido momentaneamente a perspectiva de um colapso do sistema financeiro internacional, não têm sido suficientes para reverter a tendência ã baixa das bolsas nem muito menos evitar uma recessão generalizada, que é o que está por trás do "pânico dos mercados" e a volatilidade das bolsas.

A crise financeira tem começado a afetar o que vulgarmente tem se chamado de "economia real", ou seja, a esfera de produção e as empreitadas não financeiras, mostrando a estupidez de pretender que ambos os aspectos de uma única realidade capitalista podem ser independentes. Quase sem exceção as principais empresas capitalistas -desde Sony e Samsung até Microsoft- têm anunciado baixas em suas vendas e seus lucros. As três maiores automotrizes, GM, Chrysler e Ford, ícones do capitalismo estadunidense estão em uma profunda crise e na espera de um pacote de ajuda estatal para tratar de manter-se erguidas.

Segundo os dados do mês de outubro, a economia chinesa já tem começado a se desacelerar e as previsões indicam que o crescimento estimado seria neste país o mais baixo desde 2003.

A situação da economia estadunidense é alarmante. Os dados do Departamento do Comércio dos Estados unidos indicam que o crescimento econômico decaiu a uma taxa anual de 0,3% no terceiro trimestre deste ano. Segundo a interpretação destas cifras, se a contração não foi mais profunda se deu por fatores conjunturais: uma importante subida das exportações, favorecidas durante este trimestre por uma desvalorização momentânea do dólar, que já se dissipou, e um aumento dos gastos do governo essencialmente na defesa.
A tendência recessiva se mostra também na queda do consumo, que desceu cerca de 3,2%, a primeira contração desde 1991 e a mais importante desde 1980.

Por sua vez, continua a deflação nos preços das residências, fazendo que cada vez mais as hipotecas contraídas tenham um valor maior que as próprias residências. Isto está piorando a falta de pagamento e se calcula que no prazo de pagamento uns quatro milhões de residências entrarão em execução, o eu se soma ã grande quantidade já existente de residências invendáveis.

O outro indicador é a perda de 2 bilhões de postos de trabalho no último ano, a metade dos quais se concentram em setembro, outubro e novembro. A taxa de desemprego médio alcançou os 6,7% porém o próprio Departamento de Trabalho dos EUA reconhece que já teria alcançado por volta dos 11% real se contarmos os 5 milhões de trabalhadores que deixaram de procurar emprego.

Junto com a contração da economia estadunidense, o fenômeno recessivo também afeta a economia japonesa e a eurozona, que tomada em seu conjunto anunciou em meados de novembro que vive esta situação pela primeira vez desde sua constituição como tal. Tomadas individualmente, Alemanha, França, Espanha e Itália, já estão em recessão igualmente a Grã Bretanha, ao que devemos somar países europeus médios como Irlanda, a crise na Grécia e a bancarrota do sistema bancário da Islà¢ndia.

Partindo do fato de que, pela primeira vez desde 1973, as principais economias capitalistas entraram em recessão conjuntamente, os prognósticos coincidem em que, no mínimo, esta queda será profunda e que poderá durar vários anos. AS perspectivas da crise são sombrias e vão desde considerar a possibilidade de uma recessão profunda e duradoura seguida de uma recuperação débil, até um estancamento "a modo japonês", ou seja, uma economia achatada por mais de uma década. Inclusive está implícito entre as possibilidades abertas pela crise que iremos até uma depressão econômica global, com contrações significativas do produto interno bruto dos principais países e deslocamento do comercio mundial, similares ás da década da Grande Depressão.

Esta situação da economia já está provocando importantes crises políticas e estamos começando a ver seus efeitos sociais, com demissões em massa, cortes salariais, perda das moradias e pobreza. Sem dúvidas, é uma situação que dará lugar a novos fenômenos políticos e de luta de classes.

Os "neokeynesianos" e o resgate do capitalismo

A crise econômica atual está sacudindo os mitos sobre as benesses do "livre-mercado" que serviram de fundamento ideológico para a ofensiva neoliberal. Os que haviam anunciado o "fim da história" e o triunfo definitivo do sistema capitalista, hoje pretendem aterrorizar a população, que se opõe ao resgate dos multibilionários de Wall Street, dizendo que se não os resgatam todos teremos indubitavelmente que sofrer as conseqüências.

Como foi no caso de crises anteriores, como a das sociedades de poupança e empréstimo nos Estados Unidos, no final da década de 1980, a elite financeira e o Estado estadunidense capitalista, tal como os seus pares na União Européia e no Japão, estão tentando impor uma política que envolve uma fenomenal transferência de recursos da sociedade, o produto do trabalho de milhões de pessoas, em direção a segmentos mais ricos, que têm aumentado de forma incalculável suas riquezas durante a ascensão do "neoliberalismo" . Ao longo dos últimos 30 anos 1% das famílias mais ricas nos EUA duplicaram a sua parcela no total das receitas, dos 8% que tinham no final dos 70 para os 17% que atualmente se beneficiam.

Contra com a evidente queda do paradigma neoliberal, alguns economistas burgueses liberais e neokeynesianos como Paul Krugman, o mais recente prêmio Nobel em economia, argumentam que a crise atual é devida ã falta de regulação estatal sobre os EUA e o sistema financeiro global. Baseiam sua explicação no fato incontestável de que, ao longo dos últimos 30 anos, a financeirizaçã o da economia atingiu um nível sem precedentes e com ela a proliferação de instrumentos especulativos sofisticados, que terminou na engenharia complexa da bolha baseados em hipotecas subprime. Para os atuais neokeynesianos, a solução para a crise supõe o salvamento do sistema capitalista pelo Estado, ou seja, a injeção de bilhões de dólares de fundos públicos, mas complementado com medidas que colocar alguns limites ã especulação financeira.

Alguns sustentam também que é necessário salvar os endividados. Alguns minoritários propõem um retorno a uma espécie de "estado de bem-estar", com a necessidade de uma política semelhante ao New Deal implementadas pelo Presidente Roosevelt, em 1933, embora omitindo que este plano teve um efeito limitado e que a verdadeira recuperação da economia dos EUA se produziu com a sua preparação para a entrada na II Guerra Mundial. Muitos desses, envolvidos com os "progressistas" americanos, alimentam a expectativa de que o governo de Barack Obama vai ser mais permeável ás pressões da esquerda, ainda que o seu programa eleitoral estivesse longe de incluir medidas que se assemelhem ao New Deal e que esteve sendo um grande defensor do programa para resgatar os bancos, enfim aprovado pelo Congresso. Seus assessores econômicos para a equipe de transição são antigos membros da administração Clinton, quando a economia continuou sob os parâmetros impostos pela restauração do conservador Reagan e Bush pai, ou bilhonários como Warren Buffet.

O keynesianismo, com ou sem um "bem-estar", é uma das grandes ilusões que alimentou o capitalismo do pós-guerra, argumentando que é possível manter um crescimento harmônico regulamentado pela intervenção estatal que iria neutralizar as tendências estruturais do capitalismo que, em última instância, o levam ã crise. Mas a crise de 1973-75 mostrou que não é possível travar a dinâmica do capitalismo e que, após os chamados "trinta anos gloriosos", se impôs a tendência de declínio da taxa de lucro, que logo se transformou ns crise e, posteriormente, no giro "neoliberal" como política capitalista, como uma tentativa de contrapor esta tendência. Também temos o exemplo do Japão, onde a grande escala da intervenção estatal não foi capaz de levantar a economia do marasmo em que ela entrou no início dos 90.

Nada poderia estar mais longe o que pensam os adeptos do intervencionismo estatal que o Estado pode ser um árbitro ou um agente neutro. Por exemplo, Henry Paulson, secretário do Tesouro de Bush, foi presidente da Goldman Sachs, assim como Robert Rubin, que ocupavam o mesmo posto no governo Clinton. O Partido Democrata responde tanto aos interesses da oligarquia financeira como o Partido Republicano, como expressam as contribuições financeiras feitas por Wall Street para a campanha de Obama e decisivo apoio do Partido Democrata para o programa de resgate proposto por Paulson. Mais genericamente, o socorro aos bancos e aos setores que concentram a riqueza que estamos vendo agora, mostra claramente que o Estado está agindo como um "conselho que administra a empresa comum" dos capitalistas: em tempos de prosperidade garantem a sua rentabilidade, em momentos de crise, tenta salvá-los da falência. Isto não é nenhuma novidade. Tal como disse Marx há mais de 150 anos, que essa é a essência do sistema capitalista: assegurar a apropriação privada dos lucros e socializar prejuízos. E, nisto, não há diferença entre neoliberais e neokeynesianos.

Porque é tão profunda a crise?

A crise nas hipotecas subprime foi uma primeira mostra dos desequilíbrios internos e externos da economia dos EUA que sustentou o último ciclo do crescimento na economia global. E, mais genericamente, o desencadeamento de uma crise que está a pôr em questão a base sobre o qual é mantido o capitalismo nos últimos 30 anos.

No plano interno, o capitalismo americano viveu os últimos anos do endividamento para além do reembolso potencial de milhões de lares, além de aumentar o endividamento das empresas e do próprio Estado. Durante estes anos, os Estados Unidos agiram como o consumidor em última instancia dos bens produzidos em diferentes partes do mundo, principalmente das exportações chinesas, o que levou a um aumento do seu déficit comercial.

O crescimento do consumo foi possível em função da extensão do crédito e de capital fictício através do fabuloso desenvolvimento do mercado acionário, os derivados, etc, que produziu o "efeito riqueza", que teve um efeito duplo: favorecido negócios dos bancos, que subiu para agarrar uma quota de mais-valia com a cobrança de juros, enquanto reduziu a valores negativos a taxa de poupança domiciliar.

O endividamento norte-americano pode sustentar-se graças ao financiamento de outros estados, principalmente a China, o Japão e os países exportadores de petróleo, que investiram nos títulos do Tesouro dos EUA e têm uma grande parte das suas reservas em dólares. Este tipo de financiamento foi possível graças a que os EUA se manteve, ainda em declínio, como a única potência hegemônica imperialista hegemônica e o dólar continuou a ser a moeda de reserva mundial. Mas, ao mesmo tempo, significa que está exposto ás decisões tomadas por outros governos sobre suas reservas, que em si é uma expressão que esta hegemonia já entrou em crise.

Esta espiral de dívidas e créditos, que gerou a curto prazo um "efeito riqueza" e dinamizou a economia mundial, se fez insustentável. Em apenas poucos meses passou de uma crise no mercado imobiliário e de hipotecas, para afetar os grandes bancos de investimento em Nova York e estender-se para o sistema financeiro mundial, para transformar- se finalmente em uma crise da economia capitalista como um todo.

Esta não é apenas uma crise cíclica, como alguns defendem, que após um momento de ansiedade levará a um novo equilíbrio, mas é a conclusão lógica dos mecanismos com os que o capitalismo saiu da sua crise de sobre-acumulaçã o de meados da década de 1970 que marcou o fim do "boom" do pós guerra.

Entre os economistas burgueses estão aqueles que acreditam que por mais que a crise seja grave, a força relativa da economia norte-americana, embora em declínio, representa 25% da economia global; o aumento da produtividade do trabalho nas últimas décadas; A inovação tecnológica e o fato de que nenhuma potência esteja a altura de disputar com os EUA a dominação do mundo, vai permitir que recuperar-se e ainda beneficiar-se da atual situação. Outros entendem que os EUA vai perdendo a preeminência, mas que o capitalismo global está protegido pela China e a dinâmica da sua economia.

Alguns consideraram que com o período neoliberal, e mais especificamente meados da década de 90, havia começado uma longa onda de crescimento capitalista, o que significa que por um período prolongado de história tinham conseguido superar as contradições que o levaram a crises passadas do sistema. Entre os fatores que levaram a esta situação, geralmente se refere ao aumento da "globalização" a cooperação econômica e financeira e ã existência de uma nova "revolução tecnológica"; mas, sobretudo a restauração do capitalismo nos antigos Estados operários burocratizados, particularmente na China, que passou a desempenhar um papel fundamental no capitalismo global como fornecedor de força de trabalho barato. Segundo esta interpretação, estes processos de restauração tiveram a capacidade de renovar perspectiva do sistema capitalista por uma série histórica do período e não reconhecer esse fato iria sustentar uma visão "estancacionista" do capitalismo e catastrofista a partir do ponto de vista político. A atual crise só seria um momentâneo freio incapaz de parar o movimento ascendente de forma mais geral.

Mas, ao contrário do crescimento dos "trinta gloriosos", que foi viabilizado por uma destruição maciça de forças produtivas nos 30 e na guerra mundial em si mesma, a saída da crise dos 70 foi apenas uma limpeza parcial do capital. A ofensiva "neoliberal" lançada no início das presidências de Reagan e Thatcher, significou um aumento brutal da exploração dos trabalhadores, tanto dos países centrais quanto nas semi-colônias, que foram impostas maciças privatizações e abertura das economias nacionais para o capital imperialista. As condições favoráveis para a capital após a derrota do ascenso revolucionário de 1968-81 se aprofundaram com a queda do Muro de Berlim e da restauração capitalista nos ex-Estados operários, principalmente da Rússia e da China, este último retornando ã órbita do capitalismo no mundo fornecedor de trabalho barato, favorecendo a descer o preço do trabalho em todo o mundo. Juntamente com outros mecanismos indiretos, tais como a queda dos preços das matérias-primas, a desregulamentaçã o dos mercados e uma nova divisão internacional do trabalho no âmbito de uma maior internacionalizaçã o da economia e financeirizaçã o, permitiram uma recuperação da taxa de lucro, enquanto em níveis mais baixos do que a do boom dos anos de guerra.

No entanto, estas condições de rentabilidade não foram acompanhadas por um aumento sustentado e duradouro na acumulação de capital, com exceção da China, mas também resultou na combinação entre uma sucessão de nichos e da recuperação produtiva virada massa crescente de especulativos de capital para as empresas, causando uma hipertrofia sem precedentes da esfera financeira e a subsequente criação de bolhas, por períodos curtos, para permitir alcançar benefícios significativos. Após a crise asiática, a política do Federal Reserve dos EUA foi baixar as taxas de juros e injetar uma grande liquidez no sistema bancário. Isto resultou na criação da bolha das "pontocom" e, nas palavras do então presidente do FED, Alan Greenspan, a "exuberância irracional nos mercados".

Após do estouro da bolha da "nova economia" em 2000 e os ataques das Torres Gêmeas, a economia norte-americana entrou numa recessão que saiu gerando uma nova bolha: o boom imobiliário e da flexibilização do crédito ainda maior para consumo, acompanhado por uma diversificação e sofisticação dos instrumentos financeiros, tais como alavanca e venda em embalagens de dívidas, o que permitiu que o grande capital dos bancos e os fundos de investimento.

A profundidade da crise atual, que justifica a sua comparação com o crack de 1929 e da Grande Depressão, está dada porque estas duas contra tendências nas quais se baseou o neoliberalismo - o aumento da mais-valia absoluta e relativa em termos absolutos e relativos e a incorporação de novos territórios para a exploração capitalista- além da financeirizaçã o, têm falhado como uma plataforma para um novo período prolongado de crescimento capitalista.

A crise da hegemonia estadunidense

A crise econômica se combina com um debilitamento importante da posição dos EUA como única superpotência, acelerando sua decadência hegemônica. Depois dos atentados de 11 de Setembro o governo de George Bush e a cúpula neoconservadora nucleada ao redor do “Projeto para um Novo Século Americano” lançaram uma política exterior ofensiva, baseada essencialmente na superioridade militar, para reforçar o domínio norte-americano no mundo, começando com o “redesenho” do Oriente Médio. Segundo os falcões do imperialismo norte-americano apesar de terem usufruído nos anos 90 de um predomínio indiscutido, os Estados Unidos havia desperdiçado seu triunfo na Guerra Fria contra a União Soviética para reafirmar seu papel como única potência mundial, o que implicava não só impor seus interesses aos países semicoloniais e dependentes, como também as outras potências imperialistas competidoras. A implementação da doutrina da “guerra preventiva” esteve a serviço destes objetivos, consagrando uma política imperialista ofensiva baseada no unilateralismo e na vantagem militar comparativa dos Estados Unidos.

Porém, a chamada “guerra contra o terrorismo” se demonstrou um fracasso estratégico e seu resultado foi acelerar a decadência hegemônica e seu resultado foi acelerar a decadência hegemônica norte-americana. A guerra e a ocupação do Iraque, que tinha como objetivo reconfigurar a política do Oriente Médio, instaurando governos mais pró norte-americano e pró-israelense nos principais países da região, com uma grande importância geopolítica e econômica para os Estados Unidos, foi uma débâcle para as tropas imperialistas.

A conseqüência não desejada da guerra do Iraque foi o fortalecimento do Irã, principal inimigo dos Estados Unidos na região, que se transformou em uma potência regional e que, pela sua influência pelas frações xiitas que governam o Iraque é agora indispensável para os planos de Washington de manter uma relativa estabilidade no país, evitando os cenários de guerra civil descontrolada e os ataques contra as tropas imperialistas. O outro aspecto chave da política de Bush para amenizar a situação no Iraque foi conseguir a colaboração dos grupos sunitas que anteriormente resistiam ã ocupação em troca de dinheiro, e de promessas sobre sua integração ao aparato de segurança do estado. Esta dupla política é fonte de tensões recorrentes.

No Afeganistão as tropas da OTAN perderam o controle do país. O regime fantoche encabeçado pelo presidente Karzai é altamente impopular e só seta sustentado pela proteção militar norte-americana e européia. Os talebã e outros “senhores da guerra” recuperaram sua base social e territorial no país. O campo de batalha se estendeu ao Paquistão, que após se alinhar com os EUA na “guerra contra o terrorismo” viu um ressurgir significativo de organizações islà¢micas opositoras com um importante apoio popular. Após a queda do ditador amigo de Washington, Pervez Musharraf se intensificaram as ações armadas dos partidários do talebã e também as ações armadas nas fronteiras, tornando a situação altamente instável.

O Paquistão possui armamento nuclear, como a Índia. Durante os últimos anos os EUA haviam conseguido diminuir a rivalidade histórica entre ambos os países, mas agora esta está retornando, expressando- se centralmente ao redor do conflito da Cashemira. O governo de Bush parece ter se inclinado a reafirmar sua aliança com a Índia, país com o qual firmou um acordo nuclear, ao que o Paquistão respondeu consolidando suas relações militares com o regime chinês.

Por sua vez, a crise no Cáucaso disparada pelo conflito entre a Rússia e a Geórgia, cujo governo é produto das chamadas “revoluções coloridas” impulsionadas pelos EUA, explicitou a debilidade norte-americana e a emergência de potências regionais, como o refortalecido estado russo, que ainda que não disputem a hegemonia mundial defendem o que consideram “sua zona de influência”. Este breve conflito mostrou antecipadamente as tensões geopolíticas que tendem a se agudizar com o avanço da crise econômica.
Por ora a expectativa está posta na mudança de presidente dos EUA, após oito anos de administração republicana e nas expectativas de utilizar a figura de Obama para ganhar nova legitimidade. Mas é evidente que a magnitude da crise reduz a possibilidade de que o novo presidente possa contornar a situação, tanto no plano interno como no externo, frente ao enorme desprestígio da presidência de Bush.

Desde a Segunda Guerra Mundial os dois pilares da hegemonia norte-americana foram ao Pentágono e o dólar como única moeda de referência. O dólar e os bônus do Tesouro norte-americano seguem sendo a opção vista como mais segura nos meses que a crise financeira já levam, o que levou ã sua valorização. Este fenômeno se explica em parte por que o euro não pode atuar como moeda de substituição e por que ainda prevalece a “herança” da fortaleza econômica, política e militar dos Estados Unidos como superpotência. Porém, a profundidade da crise da economia norte-americana está pondo em questão pela primeira vez desde os acordo de Bretton Woods o papel do dólar como moeda de reserva internacional. A hegemonia do dólar que substituiu a libra, se estabeleceu como parte de um equilíbrio econômico, político e militar que regia a ordem capitalista desde a segunda pós-guerra. A convertibilidade entre o ouro e o dólar estabelecida nos acordos de Bretton Woods em 1944 se quebrou e foi substituída em 1973 pelo sistema de livre flutuação de moedas que permitiu que a economia norte-americana recuperasse a competitividade frente ã Alemanha e o Japão.

Liberado do ouro, o valor do dólar só estava respaldado pela fortaleza econômica e política dos EUA. Durante os anos em que a primeira potência imperialista atuava como comprador em última instancia fluíam milhões de dólares de todo o mundo para financiar o endividamento norte-americano, sustentando dessa forma o valor do dólar. Agora esta situação começará a mudar. Mas diferentemente da resolução da crise de hegemonia britânica, que após duas guerras mundiais terminou com o ascenso dos EUA como potência hegemônica, hoje não há nenhum país ou bloco imperialista que esteja em condições de se postular como detentor da hegemonia mundial.

Para além das oscilações conjunturais, é provável que o mundo marche em direção a uma fragmentação nas zonas onde a hegemonia sejam de distintas moedas e a uma reconfiguração de alianças e blocos. Este cenário de crise de liderança imperialista mundial facilitará o desenvolvimento de conflitos regionais e abrirá um período de grande instabilidade e tensões interestatais em nível internacional. Esta situação de crise econômica e política levará a uma agudização da luta de classes e a uma profunda polarização social e política, como já começa a se antecipar. Em síntese as condições que estão começando a se definir no início desta crise, atualiza a definição que os marxistas do princípio do século XX fizeram desta época como uma época de crises, guerras e revoluções.

A crise abre novas oportunidades para os revolucionários

As três décadas de neoliberalismo e o retrocesso do movimento operário levaram muitos a considerar que o capitalismo se havia tornado imbatível e a desertar das fileiras do marxismo e da esquerda revolucionária.

O colapso dos regimes stalinistas, a desaparição da União Soviética e a restauração do capitalismo, provocaram um forte retrocesso da influência do marxismo, tanto como ideologia e quanto como corrente política. Não só os social-democratas, como também as burocracias sindicais e partidos políticos de origem stalinista deixaram de lado toda a referência ao marxismo e ao socialismo e implementaram as políticas neoliberais como os governos dos partidos da direita tradicional. Inclusive grande parte da intelectualidade que manteve o marxismo como referência passou a lhe dar um valor ahistórico e ilimitado ã eficácia das contra-tendências do capitalismo para evitar a crise, fazendo eco de que finalmente o capitalismo havia alcançado um desenvolvimento tal (seja por meio da globalização, da flexibilização da força de trabalho, da inovação tecnológica entre outras explicações) que a crise era coisa do passado.

Por exemplo, o historiador marxista britânico Perry Anderson defendia no começo do novo século que o triunfo e a extensão do neoliberalismo tinha estabelecido uma relação de forças tal que só uma crise econômica profunda no ocidente poderia mudar. Em suas palavras “só uma depressão de proporções muito distintas da do período de entre-guerras estaria em condições de mudar os parâmetros do consenso atual”. Isso ele dizia para assinalar, sem nenhum convencimento, que só um acontecimento inimaginável ao menos em curto prazo poderia sacudir as bases da ordem capitalista. Este acontecimento estava quase “na esquina”. A crise do “consenso” burguês que dominou os últimos anos abre um novo panorama para a reconstrução do movimento operário em nível internacional e para o desenvolvimento de partidos revolucionários. Mostrou-se novamente que o capitalismo é incapaz de superar suas contradições. Ou, mais precisamente, que as saídas que o capital encontrou para uma das crises vividas nestes anos foram “fugas para diante” que prepararam a atual explosão. Parafraseando Trotsky poderíamos dizer que “a teoria do colapso” triunfou sobre a teoria do desenvolvimento pacífico. É evidente que estamos nos inícios de acontecimentos de significado histórico, cujas conseqüências só podemos prever de forma geral.

O crack de 1929 deu lugar a uma década catastrófica, de enorme instabilidade, de crise do comércio internacional e de processos revolucionários e contra-revolucioná rios, situação que preparou o terreno para o desencadeamento da Segunda Guerra Mundial.

Frente ao deslocamento econômico, os Estados capitalistas começaram seus preparativos bélicos: na Alemanha após a derrota da classe operária traída pela social-democracia e stalinistas, pôde se impor o ascenso de Hitler ao poder em 1933, nos Estados Unidos sua contra-partida foi a política do New Deal implementada pelo presidente Roosevelt com um duplo objetivo: revitalizar o capitalismo norte-americano e evitar a radicalização dos trabalhadores e das massas de pobres, no marco de um desemprego que alcançava 25%. Mas quando o New Deal se mostrou insuficiente para reanimar a economia e em 1937 se produziu uma nova crise, Roosevelt não hesitou em dar um giro para uma economia orientada para os preparativos da guerra, o que permitiu a recuperação econômica.

A revolução proletária foi o outro fator atuante nos convulsivos anos 30, com a guerra civil espanhola e a onda de greves e ocupações de fábrica na França que culminaram no governo de Frente Popular. Inclusive nos Estados Unidos, onde a classe operária era mais atrasada politicamente se desenvolveu um poderoso movimento de desempregados, surgiu o sindicalismo combativo nucleado em torno da CIO e a classe operária protagonizou greves históricas como a dos Teamsters de Minneapolis em 1934, onde os trotskistas tiveram um papel essencial.

É verdade que a história não se repete. Mas também é certo que crises desta envergadura deslocam as condições de estabilização do sistema, e quando isso acontece se abrem cenários de luta de classes e de lutas entre os Estados muito agudas incluídas as guerras e revoluções.

Os revolucionários temos que nos preparar para atuar em um novo período histórico, cujos contornos serão definidos a partir da atuação da classe dominante para tratar de superar esta crise e das respostas de massas, um período nos que se está demonstrando ante milhões em todo o mundo a irracionalidade deste sistema social.

A crise de distintos governos neoliberais na América Latina, que antecipou o que hoje está ocorrendo de forma generalizada levou desde o princípio da década a uma tendência persistente ã ação direta que em alguns países terminou derrubando governos, como vimos nos levantamentos revolucionários na Bolívia, ou nas jornadas de dezembro de 2001 na Argentina, que deram fim ao governo de De La Rua.
Esta resposta ã crise econômica deixou experiências muito valiosas para a classe operária internacional. Por exemplo, na Argentina deu como resultado a emergência de um movimento de desempregados organizado que se utilizou de métodos radicais de luta como os bloqueios de rua, e o fenômeno de fábricas ocupadas e postas a produzir por seus próprios trabalhadores, das quais o controle e gestão operário de Zanon foi e segue sendo a experiência mais avançada.

Esta situação em parte pôde ser desviada pelo ascenso de governos “progressistas” que conseguiram base entre as massas populares a partir da recuperação econômica impulsionada pela alta dos preços internacionais das matérias-primas. O crescimento econômico atuou amortecendo as tensões entre as classes. Mas estas condições já não existem.

Em nível mundial a crise seguramente multiplicará as respostas dos trabalhadores e das massas populares e também endurecerá a repressão estatal e as variantes burguesas que defendem maior disciplinamento dos oprimidos. Algumas primeiras expressões de resistência foram a greve geral na Bélgica em meio da queda das bolsas, exigindo a atualização dos salários de acordo com a inflação, a greve geral na Grécia e a luta massiva de estudantes e trabalhadores na Itália contra as medidas de corte do governo de Berlusconi. O Estado Espanhol também está vendo uma resposta importante, como as ações dos operários da Nissan resistindo ás demissões e as mobilizações estudantis com a demanda “Que a crise seja paga pelos capitalistas”.

Na Grécia a morte de um estudante assassinado pela polícia desatou uma verdadeira rebelião nacional no começo de dezembro de 2008, protagonizada pelos operários, estudantes e jovens, que durante dias se enfrentaram com a polícia e tomaram as ruas das principais cidades, com a realização de uma greve geral em 10 de dezembro e ocupações de universidades e colégios, e com manifestações diárias que defendem a queda do governo conservador de Caramanlís. Os acontecimentos na Grécia, Itália e Estado Espanhol onde os estudantes ocuparam as universidades, mostra que os estudantes e a juventude trabalhadora, que sofre com a flexibilização trabalhista, o desemprego, a marginalidade e a falta de perspectivas, podem ser um grande motor da luta dos explorados na Europa. O movimento estudantil está jogando até o momento um papel importante nas primeiras ações de resistência, dando lugar ã possibilidade de desenvolvimento de setores radicalizados da juventude que retomem e superem o melhor da experiência do “movimento anti-globalizaçã o” e das ações anti-guerra que o sucederam, quando foram os jovens - ainda com todo tipo de ilusões em variantes reformistas e autonomistas - que ganharam as ruas das capitais dos países imperialistas para denunciar as misérias do capitalismo contemporâneo.
Devemos nos preparar para que a medida que os governos e as patronais descarreguem a crise sobre as massas, estes conflitos de classe se façam mais agudos, com uma crescente polarização social e política. Já o fortalecimento de variantes da extrema direita nos países imperialistas que apelam ao racismo e focalizam seu ódio sobre os trabalhadores imigrantes está antecipando como a burguesia se prepara para o cenário de polarização dos enfrentamentos futuros.

A crise capitalista e o programa revolucionário

Com o desenvolvimento da crise capitalista e a recessão, está se preparando uma nova catástrofe que porá em risco a subsistência de milhões de trabalhadores, camponeses pobres e oprimidos do mundo.

Por sua vez, a crise está atuando como uma grande reveladora da natureza do capitalismo, expondo de forma aberta que é um sistema em profunda decadência em que uma ínfima minoria da população composta por empresários, banqueiros e agentes das finanças, que concentram os principais meios de produção e de troca e tem o estado burguês a seu serviço, acumulam fortunas inimagináveis a partir da exploração brutal de milhões de seres humanos que só possuem sua força de trabalho. Em épocas de prosperidade capitalista aumenta a taxa de exploração dos seus escravos assalariados para aumentar seus lucros, e em épocas de crises lançam os trabalhadores no desemprego, no desespero, e na fome em nome de preservar sua rentabilidade.

Neste período histórico, o programa transicional estará cada vez mais na ordem do dia, não só como um instrumento de propaganda, mas como programa de ação, tendo em conta as particularidades que a luta de classes tomar nos distintos países, o grau de amadurecimento político do proletariado e o desenvolvimento de organizações operárias revolucionárias. São momentos nos quais as contradições entre as condições objetivas para a saída revolucionária e o atraso na consciência política das massas se torna mais aguda. O programa transicional é justamente uma ponte para que os explorados cheguem ã conclusão que é necessário lutar não por uma reforma do sistema capitalista, mas para que os trabalhadores cheguem ao poder.

Obviamente não defendemos que exista uma fórmula única, adequada ás variadas situações que a classe operária dos distintos países e regiões enfrenta. Mas de fato há certas demandas que com a crise tendem a ocupar um lugar central mais ou menos generalizadamente.

Como ocorre cada vez que seus lucros declinam, os capitalistas recorrem ao fechamento das empresas e ás demissões e cortes salariais, enquanto pedem aos gritos pela ajuda do estado para salvar seus negócios da bancarrota.

Os trabalhadores não podem permitir novamente que as patronais transformem milhões de operários em desempregados crônicos, empurrando a eles e suas famílias a uma existência miserável, enquanto usam o fantasma do desemprego para aterrorizar os trabalhadores empregados e abaixar seus salários.

Frente a isso defendemos a escala móvel de salário, isto é, seu ajuste de acordo com a inflação e a repartição das horas de trabalho entre todos os trabalhadores disponíveis, isto é a redução da jornada de trabalho sem afetar o salário.

Ante a ameaça de fechamento de empresas defendemos a abertura dos livros de contabilidade e a expropriação sem pagamento de toda empresa que feche ou demita e que seu funcionamento passe a ser sob controle e gestão operária da produção.

Os principais estados capitalistas estão pondo bilhões de dólares e euros no salvamento dos grandes bancos e da elite financeira, e a isto chamam “nacionalização”. Contra esta fraude baseada em uma transferência massiva de recursos para os capitalistas, é necessária uma verdadeira nacionalização sem pagamento de indenização dos bancos privados e o estabelecimento de um banco estatal único sob a administração operária, que concentre o sistema de crédito e investimentos para colocá-lo a serviço dos interesses dos trabalhadores e do povo. Isso, por sua vez, impedirá a fuga de capitais, sobretudo nos países semicoloniais, e a expropriação das pequenas poupanças por parte dos banqueiros.

Esta medida deve ir acompanhada da nacionalização do comércio exterior para evitar a fuga de divisas, frequentemente realizada nos países semicoloniais e dependentes sob a forma de remessas de utilidades das filiais das corporações industriais e bancárias ã suas matrizes.

É preciso exigir dos sindicatos que rompam sua subordinação ás políticas capitalistas e levantem um programa operário independente, colocando a unidade das fileiras dos trabalhadores para unir trabalhadores empregados e desempregados, efetivos e contratados. Nos países imperialistas em particular há que tomar a defesa dos imigrantes, que são os primeiros sobre os quais se está descarregando a crise, exigindo sua regularização sem condições e o fim de todas as leis anti-imigração. Como dizem no Estado Espanhol: “Nativa ou estrangeira, uma mesma classe obreira”!

Os revolucionários intervimos nos sindicatos e lutamos para que estes tenham uma direção classista e combativa, mas os sindicatos, dirigidos por burocracias pró-patronais e cooptadas pelo estado organizam só um setor da classe operária, geralmente suas camadas mais altas, enquanto que a maioria não tem nenhum tipo de organização, o que aprofunda as divisões nas fileiras operárias. Por isso, a atividade dos revolucionários nas fábricas e empresas é impulsionar organizações, como os comitês de greve em momentos de luta, ou os comitês de fábrica, que agrupem todos os setores dos trabalhadores. Os comitês de fábrica eleitos por todos os trabalhadores são organizações infinitamente mais democráticas e ao representar a totalidade dos operários de uma fábrica ou estabelecimento constituem um “contrapeso” ou uma espécie de “dualidade de poder” fabril frente ao poder patronal.

As lutas que virão também colocarão a necessidade de desenvolver órgãos de frente-única que reúnam os explorados, independente de sua categoria profissional, como coordenações e conselhos, que com seu desenvolvimento se transforme em verdadeiros embriões de poder operário.
As potências imperialistas tentarão descarregar sua crise sobre os povos oprimidos, subjugando ainda mais os países semicoloniais para defender os interesses de suas grandes corporações nacionais. Além disso, os EUA do presidente Obama tentará conseguir um triunfo dos aliados da OTAN no Afeganistão, enquanto buscará se retirar de forma ordenada do Iraque deixando um governo que salvaguarde os interesses norte-americanos. Por isso, está colocado levantar a luta pela expulsão das tropas imperialistas do Iraque, Afeganistão e todo o Oriente Médio. E na América Latina lutar para por fim ao bloqueio contra Cuba, por terminar com o Plano Colômbia e contra a ocupação do Haiti pelas tropas da MINUSTAH enviadas pelos governos Lula, Kirchner, Bachelet e Tabaré Vazquez.

Nós, revolucionários temos uma profunda confiança em que no curso das experiências da luta de classes, nosso programa se concretizará novamente junto ã vanguarda de trabalhadores e das massas populares e poderá mostrar uma alternativa ao conjunto dos explorados que permita, mediante a revolução social, tornar realidade a “expropriação dos expropriadores” , que é o único caminho para terminar com a barbárie capitalista.

É falso que as opções se reduzem ã democracia liberal ou ao totalitarismo burocrático. No século XX a classe operária aperfeiçoou a obra iniciada durante a Comuna de Paris e assentou as bases sobre as quais desenvolver a transição ao socialismo: um novo estado com a mais ampla democracia para os explorados e o despotismo só sobre uma pequena minoria das classes exploradoras e a reação imperialista. Sobre o fim da ordem burguesa lutamos para estabelecer um estado dos trabalhadores sobre a base de um regime de conselhos operários, que garanta o pluralismo político ás organizações dos explorados e permita superar a “anarquia da produção social” típica do capitalismo mediante a planificação democrática da economia, introduzindo “a razão na esfera das relações econômicas”.

Estamos frente a momentos nos quais o capitalismo está se deslegitimando em ritmo acelerado e as idéias marxistas e a perspectiva do socialismo podem se transformar em uma referência para milhões, revertendo o clima ideológico reacionário que se assentou após o colapso da União Soviética e os avanços da restauração capitalista.

O trotskismo foi a única corrente que combateu sistematicamente contra o stalinismo que havia expropriado a Revolução de Outubro de 1917, liquidando o regime dos soviets e substituindo- os por um regime totalitário e burocrático. Contra o socialismo num só país, a degeneração do estado operário soviético e do regime de partido único a serviço de manter os privilégios da casta governamental, que como ficou demonstrado em última instância conduziria ã restauração capitalista, Trotsky sustentou a necessidade de uma revolução política na União Soviética que derrubasse a burocracia regenerasse as bases revolucionárias do estado operário, os soviets, a planificação democrática da economia, estabelecesse um regime baseado no plutipartidarismo soviético e recuperasse a luta pela revolução internacional. Por isso sustentamos que o trotskismo é o único marxismo verdadeiramente revolucionário de nossos dias.

Pela construção de partidos revolucionários da classe trabalhadora e a reconstrução da IV Internacional

Nos últimos anos a esquerda mundial ouviu os cantos de sereia de adaptar-se à lógica do “mal menor”. Mas esta política levou ã adaptação aos governos “social liberais”, como vimos com a participação da Refundação Comunista no governo de Prodi na Itália, e no Brasil com Miguel Rosetto (membro da corrente Democracia Socialista do PT, que se reclamava parte do Secretariado Unificado da IV Internacional) como ministro do governo de Lula, continuador das políticas neoliberais praticadas por Cardoso. Escutamos que era o momento de construir “partidos amplos” sem delimitação entre reformistas e revolucionários e sem corte de classe. Na América Latina já temos a experiência do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), fundado por alguns setores que saíram do PT, mas com uma orientação de conciliação com a defesa patronal “mercado internista”, chegando a votar uma lei favorável ã flexibilização trabalhista nas empresas pequenas e médias. Mais em geral, nesta região temos visto uma forte adaptação da esquerda não só aos fenômenos “populistas” como o chavismo na Venezuela ou o MAS de Evo Morales, como no caso da Argentina a um incrível alinhamento junto ao pior da reação patronal, como ocorreu com o MST e outros agrupamentos menores com seu apoio aos proprietários agrários no conflito pelos impostos móveis ás exportações de soja entre março e julho de 2008.

Na Grã-Bretana o Socialist Workers Party (SWP) impulsionou a coalizão RESPECT junto ao ex-deputado trabalhista Georg Galloway e a setores da burguesia muçulmana detrás de um programa de colaboração de classes, projeto que terminou explodindo.

Na França a Liga Comunista Revolucionária está em processo de auto-dissoluçã o em um Novo Partido Anti-capitalista, que defende uma definição programática ambígua entre reforma e revolução.

Os revolucionários que formamos parte da FT-QI nos preparamos para intervir em um período no qual se produzirão novos processos políticos, e ao calor da intensificação da luta de classes, de reorganização da classe operária. O fazemos assinalando com claridade que para que a crise não seja descarregada nos ombros dos trabalhadores, estes devem construir sua própria ferramenta política revolucionária. Nesta perspectiva, não só impulsionamos a construção e o desenvolvimento de nossas organizações, senão que, sem nenhum sectarismo, damos uma luta para desenvolver alas revolucionárias em todo reagrupamento que se proclame independente da burguesia e possa atrair as forças dos setores mais combativos dos trabalhadores e a juventude, e estamos dispostos a discutir com as correntes do movimento trotskista que reivindicam a estratégia da revolução proletária e a necessidade de um programa transicional.

Fazemos um chamado aos companheiros da CRCI, agrupamento impulsionado pelo Partido Obrero da Argentina, sem ignorar as diferenças que mantemos, a dar passos para coordenar uma intervenção comum frente ã crise nos planos nacional e internacional. A crise em curso exige que os revolucionários redobrem os esforços em unir nossas forças em uma intervenção comum e explorar a possibilidade de constituir partidos revolucionários unificados, política que o PTS argentino vem impulsionado hpa meses em relação ao PO. Estendemos este chamado ã LIT-QI, e ainda que esta organização proclama a necessidade de reconstruir a IV Internacional, lamentavelmente sua política se dirige essencialmente a unir os grupos de provêm da tradição “morenista” (como a CITO) e a conceber sua própria tendência como se fosse “a internacional” , negando-se de forma sectária a abrir uma discussão política série e fraternal. Cremos que ao não avançar nesta perspectiva não estaremos ã altura das situações agudas da luta de classes que seguramente se desenvolverão no próximo período. Por isso os chamamos a abrir uma discussão para elaborar um programa transicional internacional para enfrentar a crise e atuar nos países nos quais estamos, como parte da luta pela reconstrução da IV Internacional.

Não somos ingênuos e sabemos que o capitalismo não cairá por si só: deve ser derrubado. É para isso que necessitamos construir partidos revolucionários. A crise ajuda a lançar luz em relação a muitas das discussões que foram colocadas nos últimos anos. Resulta difícil argumentar hoje que os estados nacionais já não importam ou que não é necessário lutar pelo poder para conseguir verdadeiramente “mudar o mundo”. Estamos plenamente convencidos que a perspectiva da revolução socialista internacional é a única capaz de evitar a barbárie que a sobrevivência do capitalismo nos leva.

Fração Trotskista - Quarta Internacional, dezembro de 2008

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